Eu
sou um enamorado da Vida!
Para
sentir melhor o céu na minha casa,
Plantei
a minha casa entre o mar e a montanha.
Se
as ondas vêm rugir a meus pés, a horas mortas,
A
luz descer a mim numa carícia estranha.
Bebo
as estrela de mais perto... Abraço
Todo
o corpo do céu num simples movimento.
E,
quando chove, sinto a torrente das chuvas
Trazendo
da montanha, em seu penacho de águas,
Frondes,
ninhos, calhaus e pássaros ao vento.
Eu
sou um enamorado da Vida!
Amo-a
por tudo quanto ela me pode dar:
A
água fresca da fonte, a caricia da sombra,
E
até a calma silenciosa e mansa
Desse
crepúsculo que baixa devagar...
Em
cada mão de folha a minha boca bebe
O
orvalho da manhã como um suave licor.
E
abro os pulmões, sorvendo em tudo o que me envolve,
Essa
onda de volúpia e de êxtase e perfume
Que
vem do amor e que me leva para o amor.
Eu
sou um enamorado da Vida!
Tenho
ímpetos de voar, de galgar, de vencer
Colinas,
penetrar o coração dos vales,
Relinchando
feliz como um potro selvagem
Que
solta as crinas no ar para melhor correr;
Ou
retesar a asas brancas de gaivota
E
atirar-me na fúria incrível das procelas;
Beber
em haustos toda a gloria do mar alto,
Rolar
no bojo dos batéis desarvorados
Ou
as asas enxugar no alvo lenço das velas.
Vida!
Quero viver todas as tuas horas,
As
que prendi na mão e as que nunca alcancei.
Ser
um pouco de ti no espelho das paisagens
Para,
quando morrer, levar dentro dos olhos
Olegário Mariano
(1889-1958)
Olegário Mariano Carneiro da
Cunha, poeta, diplomata, deputado federal e constituinte, nasceu em Recife,
Pernambuco, Estreou na vida literária aos 22 anos com o volume Angelus, em 1911.
Segundo os biógrafos da Academia Brasileira de Letras, da qual foi membro, “sua
poesia lírica é simples, correntia, de fundo romântico, pertinente à fase do
sincretismo parnasiano-simbolista de transição para o Modernismo. Ficou
conhecido como o "poeta das cigarras", por causa de um de seus temas
prediletos
Obra literária: Angelus, 1911; Sonetos,
1912; Evangelho da sombra e do silêncio, 1912; Água corrente, 1918; Últimas
cigarras, 1920; Castelos na areia, 1922; Cidade maravilhosa, 1923; Ba-ta-clan,
1924; Canto da minha terra, 1930; Destino, 1931;Teatro, 1932; Vida, caixa de
brinquedos; O enamorado da vida, 1937; Da cadeira 21, 1938; Quando vem baixando
o crepúsculo, 1945; A vida que já vivi,1945; Cantigas de encurtar caminho,
1949; Tangará conta histórias, 1953; Correio sentimental; Toda uma vida de
poesia, 2 volumes, 1957.
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