Poema das reformas
Cláudio Murilo
É preciso reformar a casa,
Abrir as janelas,
Que o vento penetre
Em todos os cantos.
É preciso destruir as cercas,
Que as crianças entrem,
Pisem nos canteiros,
Construam a sua alegria.
É preciso reformar a rua,
Que todos andem por ela.
As lojas, os bares, os cinemas
Nos mantenham assim
Unidos e em paz.
É preciso reformar a cidade.
É preciso, antes e sempre,
reformar o homem.
É preciso despi-lo,
É preciso mostrar
Que todos somos irmãos.
É preciso um novo dilúvio.
É preciso reescrever os livros.
É preciso reencontrar a terra.
É preciso que uma torrente
Invada todos nós
E lave nossa alma.
*****
Cimento armado
Paulo Bonfim
Batem estacas no terreno morto,
No terreno morto surge vida nova.
As goiabeiras do velho parque
E os roseirais abandonados,
São cortados,
E derrubados.
Um prédio novo de dez andares,
Frio e cinzento,
Terá seu corpo de cimento armado
Enraizado no velho parque
De goiabeiras,
De roseirais.
Batem as estacas no terreno
morto:
Século vinte...
Vida de aço...
Cimento-armado!
Batem as estacas
Um prédio novo, de dez andares,
Terraços tristes,
Pássaros presos,
Rosas suspensas,
Flores da vida,
Rosas de dor.
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