Aparecida, essa moça
cuja história vou contar
não teve glória nem fama
de que se possa falar.
Não teve nome distinto:
criança brincou na lama,
fez-se moça sem ter cama.
Nasceu na Praia do Pinto
morreu no mesmo lugar.
Praia do Pinto é favela
que fica atrás do Leblon.
O povo que mora nela
é tão pobre quanto bom:
Cozinha, sem ter panela,
namora sem ter janela,
tem por escola a miséria
e a paciência por dom.
No dia que a paciência
do favelado acabar,
que ele ganhar consciência
para se unir e lutar
seu filho terá comida
e a escola pra estudar
terá água, terá roupa,
terá casa pra morar
no dia que o favelado
resolver se libertar.
Mas a nossa Aparecida
chegou cedo por demais
por isso perdeu a vida
que ninguém lhe dará mais.
E sua história esquecida
de poucos meses atrás,
é essa vida perdida
de uma moça sem cartaz,
que está aqui para ser lida
porque nela está contida
a lição que aprenderás.
Por que existem favelas?
Por que há ricos e pobres?
Por que uns moram na lama
e outros vivem como nobres?
Só te pergunto essas coisas
pra ver se você descobre.
Se não descobre te digo
para que possa saber
o mundo assim dividido
não pode permanecer.
Foi esse mundo, que mata
tanta criança ao nascer,
que negou à Aparecida
o direito de viver.
Quem ateou fogo às vestes
dessa menina infeliz
foi esse mundo sinistro
que ela nem fez nem quis
- que deve ser destruído
pro povo viver feliz.
Ferreira
Gullar, nome literário de José Ribamar Ferreira,
nasceu
em São Luís ,
Maranhão, em 10.09.1930;
e faleceu no Rio de Janeiro em 4.11.2016.
e faleceu no Rio de Janeiro em 4.11.2016.
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