Por mais de um século o teatro de
revista brasileiro nos proporcionou uma deliciosa forma de pensar e discutir a
realidade. Derivado do vaudeville do music-hall e dos espetáculos
de varietés, floresceu nos palcos cariocas no século XIX, atingindo seu
apogeu no período que compreende os anos 20 e 40 do século seguinte.
Nos números musicais, havia muitos
lançamentos de músicas inéditas dos maiores compositores brasileiros, mas as
que faziam maior sucesso junto ao público, eram as cantadas por vedetes em
trajes sumários, sempre encarando a platéia masculina, em obras de duplo
sentido e maliciosas, como a pequena obra-prima abaixo.
A garota do negócio
Meu pai morreu negociante,
um bom negociante,
com prática em negócio.
Mas quando se casou era estudante,
um mau estudante,
mas não queria sócio.
Foi ele quem abriu o negócio da
mamãe.
Também a minha mãe
morreu negociante.
Por isso tem meu dote esta
exigência.
Cumprir esta exigência
eu quero neste instante...
Quem quiser que se apresente.
Não quero um capadócio;
quero um homem competente
para abrir o meu negócio.
Eu vejo ali sentado um cavalheiro,
eu acho que servia.
É forte, é um atleta verdadeiro,
é justo o que eu queria.
A noiva do meu primo já conhece o seu negócio,
conhece o seu negócio;
diz que é desenvolvido.
Se ele aceitar em ser meu sócio,
será meu sócio.
Por favor se apresente,
eu o quero como sócio.
Já sei que é competente
para abrir o meu negócio.
Do livro “Viva o
Rebolado”, de Salvyano Cavalcanti de Paiva,
Editora Nova
Fronteira
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