A ideia da criação da mulher tem
inspirado, desde o começo dos tempos, uma infinidade de poetas e sonhadores,
que a têm descrito em seus poemas ou antevisto em seus sonhos como um
espetáculo de raríssima beleza. Poetas, pintores, escultores, artistas de todos
os gêneros não se têm esquivado à tentação de contar como foi criada a primeira
mulher.
Mas não foram somente os artistas que
tiveram o privilégio de narrar e transmitir suas concepções a respeito. Quase
todos os povos, desde os mais civilizados até os mais primitivos, possuem no
seu acervo de lendas histórias de grande beleza e lirismo sobre o assunto. Uma
antiga lenda hindu, por exemplo, descreve a criação da mulher da seguinte
maneira:
“Twashtri, o sábio, o único deus,
criou o mundo e pôs tudo em seu lugar: a terra e o mar, a lua as estrelas, o
sol e as nuvens; acima de tudo colocou a imensa abóbada celeste.
“Então Twashtri criou o primeiro
homem, mas, quando quis fazer a primeira mulher, viu que não possuía mais
material. Sentou-se e meditou.
“Depois tomou as curvas da lua, as
linhas graciosas das trepadeiras, a flexibilidade do réptil, a esbeltez do
salgueiro que cresce à beira d´água, o brilho esmeraldino da erva, a ligeireza
das plumas, a serena alegria do raio do sol, as veleidades do vento, as
lágrimas presas das nuvens, o aveludado das flores, os olhos da gazela, a
timidez da lebre, a vaidade do pavão, o arrulho da pomba, a tagarelice do
periquito. Finalmente, tomou o frio da neve, o calor do fogo interior das
montanhas, a dureza do diamante e a crueldade do tigre selvagem.
“Mediu e misturou com cuidado todos
esses ingredientes. Feita a mistura, Twashtri criou a primeira mulher e se
comprouve em sua obra.”
Há quem diga, porém, que, depois de
haver-se comprazido em sua obra por muito e muito tempo, Twashtri, o sábio, o
único deus, resolveu fazer uma experiência: modificou um pouco os ingredientes,
suprimiu alguns, ajuntou-lhes outros. E o resultado foi a primeira ideia do
feminismo...
(Do Almanaque do Pensamento de
1979)
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