terça-feira, 1 de abril de 2014

A criação da mulher



A ideia da criação da mulher tem inspirado, desde o começo dos tempos, uma infinidade de poetas e sonhadores, que a têm descrito em seus poemas ou antevisto em seus sonhos como um espetáculo de raríssima beleza. Poetas, pintores, escultores, artistas de todos os gêneros não se têm esquivado à tentação de contar como foi criada a primeira mulher.

Mas não foram somente os artistas que tiveram o privilégio de narrar e transmitir suas concepções a respeito. Quase todos os povos, desde os mais civilizados até os mais primitivos, possuem no seu acervo de lendas histórias de grande beleza e lirismo sobre o assunto. Uma antiga lenda hindu, por exemplo, descreve a criação da mulher da seguinte maneira:

“Twashtri, o sábio, o único deus, criou o mundo e pôs tudo em seu lugar: a terra e o mar, a lua as estrelas, o sol e as nuvens; acima de tudo colocou a imensa abóbada celeste.

“Então Twashtri criou o primeiro homem, mas, quando quis fazer a primeira mulher, viu que não possuía mais material. Sentou-se e meditou.

“Depois tomou as curvas da lua, as linhas graciosas das trepadeiras, a flexibilidade do réptil, a esbeltez do salgueiro que cresce à beira d´água, o brilho esmeraldino da erva, a ligeireza das plumas, a serena alegria do raio do sol, as veleidades do vento, as lágrimas presas das nuvens, o aveludado das flores, os olhos da gazela, a timidez da lebre, a vaidade do pavão, o arrulho da pomba, a tagarelice do periquito. Finalmente, tomou o frio da neve, o calor do fogo interior das montanhas, a dureza do diamante e a crueldade do tigre selvagem.

“Mediu e misturou com cuidado todos esses ingredientes. Feita a mistura, Twashtri criou a primeira mulher e se comprouve em sua obra.”

Há quem diga, porém, que, depois de haver-se comprazido em sua obra por muito e muito tempo, Twashtri, o sábio, o único deus, resolveu fazer uma experiência: modificou um pouco os ingredientes, suprimiu alguns, ajuntou-lhes outros. E o resultado foi a primeira ideia do feminismo...


(Do Almanaque do Pensamento de 1979)


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