Eça de Queiroz, em “A Relíquia”
emociona ao transpor-nos para o calvário na sexta-feira da Paixão:
“...Ergui os olhos para a cruz mais alta, cravada com cunhas numa fenda
de rocha. O rabi agonizava. E aquele corpo – que não era de marfim nem de prata
e que arquejava, vivo, quente, atado e pregado a um madeiro, com um pano velho
na cinta, um travessão passado entre as pernas – encheu-me de terror e de
espanto. O sangue que manchara a madeira nova, enegrecia-lhe as mãos, coalhando
em torno aos cravos. Os pés quase tocavam o chão, amarrados numa grossa corda,
roxos e torcidos de dor. A cabeça, ora escurecida por uma onda de sangue, ora
mais lívida que um mármore, rolava de um ombro a outro, docemente; e por entre
os cabelos emaranhados, que o suor empastara, os olhos esmoreciam apagados –
parecendo levar para sempre toda a luz e toda a esperança da Terra...”
Nenhum comentário:
Postar um comentário