domingo, 20 de abril de 2014

A cruz mais alta



Eça de Queiroz, em “A Relíquia” emociona ao transpor-nos para o calvário na sexta-feira da Paixão:


“...Ergui os olhos para a cruz mais alta, cravada com cunhas numa fenda de rocha. O rabi agonizava. E aquele corpo – que não era de marfim nem de prata e que arquejava, vivo, quente, atado e pregado a um madeiro, com um pano velho na cinta, um travessão passado entre as pernas – encheu-me de terror e de espanto. O sangue que manchara a madeira nova, enegrecia-lhe as mãos, coalhando em torno aos cravos. Os pés quase tocavam o chão, amarrados numa grossa corda, roxos e torcidos de dor. A cabeça, ora escurecida por uma onda de sangue, ora mais lívida que um mármore, rolava de um ombro a outro, docemente; e por entre os cabelos emaranhados, que o suor empastara, os olhos esmoreciam apagados – parecendo levar para sempre toda a luz e toda a esperança da Terra...”





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