quinta-feira, 3 de abril de 2014

A Família



Trata-se de um moço celibatário e pródigo, que sai a matar-se, uma noite, em direção do mar; de repente, para, olhando através dos vidros de uma janela:

Era elegante a sala, e quente e confortada.
À mesa, junto à luz, estava a mãe sentada.
Cosia. Mais além, um casal de crianças,
Risonhas e gentis como umas esperanças,
Olhavam juntamente um livro de gravuras,
Inclinando sobre ele as cabecinhas puras.
Num gabinete, além, que entreaberto se via,
Um homem – era o pai, – calmo e grave, escrevia.
Enfim uma velhinha. Estava agora só
Porque estava rezando. Era, decerto, a avó.
E em tudo aquilo havia uma paz, um conforto...
Oh! a família! o lar! o bonançoso porto
No tormentoso mar. Abrigo, amor, carinho.
O moço esteve a olhar. E voltou do caminho.

Lúcio de Mendonça (1854 – 1909) poeta, romancista e publicista brasileiro. Como poeta, dentro do Parnasianismo, escreveu: Vergastas e Névoas Matutinas.


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