Walter
Spalding
Contaram-nos
por volta de 1949, em São
Borja :
“São Tomé, ou Pai Sumé,
percorrendo as margens do Rio Uruguai ensinava aos indígenas os mistérios da fé
que Cristo, recém crucificado, legara aos apóstolos para pregarem por todo o
mundo. Ao partir, porém, satisfeito com o comportamento dos silvícolas do
Uruai, deixou-lhes de lembrança a Erva Mate, ensinando-os a preparar a infusão
que lhes daria força e vigor.”
Mais tarde encontramos no folclore
paraguaio a mesma lenda, mas em
verso. Por isso resolvemos escrever também em verso a
lendinha que nos contaram e aqui apresentamos ao leitor curioso:
Pôr de sol risonho e belo...
Caminhava pelas margens
do Uruguai, sério e singelo,
São Tomé. ‒ Sereno ouvia
a boa língua selvagem
que um mundo lhe descobria.
E os índios, donos da terra,
almas puras, sem maldade,
ao santo que a glória aterra,
‒ a glória do mundo, é claro ‒
pediram fosse seu chefe
e o chamam ‒ “senhor preclaro”.
“Caraí”, ‒ “capitão
grande” ‒
“pajé guassu” o nomeiam
e exigem-lhe que os comande.
Mas Tomé diz-lhes então:
‒ “Devo partir, bons
amigos...
Diversa é minha missão...
Cristo é que os passos me guia
E só Ele é quem me manda.
Seu poder, sabedoria,
ciência, cultura e amor
é que orientam céus e terra.
Ele é o único Senhor.
Mas antes de retirar-me
dentre vós, meus bravos filhos,
sem que isso vos cause alarme,
eu quero como lembrança,
deixar-vos santa receita
que auxilia a temperança.”
E ensinou-lhes a infusão
das folhas verdes da erveira
que o Senhor, em profusão,
naquelas terras plantou.
E depois de abençoá-la
com os amigos a tomou...
Em seguida, mansamente,
pondo os pés no grande rio,
por cima da água corrente
foi andando... foi andando...
até sumir-se, lá longe,
como uma igara vagando...
E desde então, dia a dia,
o bom povo guarani
mais valente se sentia
com mais vigor e mais fé,
ao tomar do chimarrão
que lhes dera São Tomé.
E o mate foi-se espalhando
pelos pagos do Rio Grande.
Até que foram chegando
alguns brancos de outras terras
que com os índios se mesclaram
depois de violentas guerras...
E é por isso que o gaúcho
não dispensa o amargo-doce,
‒ não por bonito ou por
luxo, ‒
mas porque, no chimarrão,
há uma parte de sua vida
e um dogma da Tradição.
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