O Rei da Voz
“Se alguém deseja saber se um reino é bem ou mal
governado,
se sua moral é boa ou má, examine a qualidade de sua
música,
que lhe fornecerá a resposta.”
Confúcio
Era sábado e anoitecia quando as
emissoras de rádio começaram a espalhar a notícia que, de repente, paralisou
todo o Brasil. Na via Dutra, dentro do município de Pindamonhangaba, no sentido
São Paulo-Rio, às 17h23min, um caminhão na contramão tinha batido num automóvel
Buick de cor verde-escuro, que imediatamente pega fogo. Dentro dele falecia,
carbonizado, aquele que desafiava o tempo e se confundia com o sentimento
musical do povo brasileiro: Francisco Alves.
O luto instala-se em todos os
corações. As homenagens passam a se suceder por amor, respeito e reconhecimento
a quem, por mais de 25 anos, soube oferecer canções que haviam se incorporado
profundamente ao viver de cada um.
Francisco de Moraes Alves nasceu
(19.8.1898) na cidade do Rio de Janeiro e faleceu (27.09.1952) no município de
Pindamonhangaba, SP, em desastre rodoviário, depois de apresentações na capital
paulista.
Um fim irônico para quem evitava
viajar de avião, por medo de morrer carbonizado como Carlos Gardel. A notícia
inacreditável apanhou de surpresa todo o Brasil, abalou e enlutou cada um dos
brasileiros. Jonjoca, vereador e presidente da Câmara carioca, por ter sido
amigo, avoca pessoalmente a organização do velório no seu recinto. Conta que
nos preparativos recebe em mãos um embrulho pequeno, levíssimo, por certo suas
cinzas, que entrega a Célia Zenatti, dançarina e atriz de revista, o grande
amor de sua vida.
Duas cenas que então presenciou,
ao lado do ministro da Educação, trazem lágrimas aos olhos de todos. As meninas
da Casa de Lázaro cantam em sua homenagem a Canção da Criança, em torno de seu
caixão lacrado, uma delas sobre o mesmo. E, na saída, a multidão imensa, que
não deixava ver o asfalto, a aplaudir um morto, de forma espontânea e vibrante,
como pela primeira vez se viu acontecer. Pela primeira vez também um carro do
Corpo de Bombeiros transportaria um morto. Seu cortejo traduziria a profunda
dor de todo um povo, sem distinção de idade e classe social. Centenas de
milhares, chorando, o acompanharam até o Cemitério de São João Batista, em
Botafogo.
Desapareceria Francisco Alves
com 54 anos, ainda na plenitude de sua arte e do reconhecimento do público. Não
é preciso dizer mais. Enquanto houver a música popular brasileira, e
alguém quiser conhecê-la ou contar sua grande história, o
nome de Francisco Alves será lembrado e reverenciado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário