A
obra mais lembrada por músicos, jornalistas e pesquisadores no Rio Grande do
Sul é Prenda Minha. Mas o caminho foi
longo e tortuoso até que ela fosse assumida pelo folclore gaúcho.
O primeiro registro da famosa estrofe
“Vou-me embora, vou-me embora, prenda minha...” data de 1880, feito por Carlos
Von Koseritz. Segundo o livro Assim
Cantam os Gaúchos (1984), a melodia teria sido recolhida por Teodomiro
Tostes, ainda nos anos 20, a
partir dos acordes de um velho gaiteiro.
A origem da toada mais conhecida no
Rio Grande estaria no refrão de origem açoriana: “Tirana, atira, tirana / vem a
mim, tira-me a vida: / A prenda que eu mais amava / Já de mim foi suspendida”.
Mas, para se afirmar no imaginário rio-grandense, Prenda Minha teve de pegar o trem da revolução de 30 e ir até o
Rio. Foi de lá, popularizada pela colônia gaúcha impressionada com os registros
que Mário de Andrade fez de Prenda Minha
em seu livro Ensaio sobre Música
Brasileira, que a música voltou para o seu pago e ganhou popularidade,
ainda que não tanta quanto a que atingiu no Rio. A primeira gravação
aparentemente foi feita em 1935, pelo selo Victor, nas vozes de Almirante e
Paulo Tapajós.
De lá para cá, Prenda Minha se assumiu cada vez mais como de domínio público. Já
foi gravada por Almirante, pelos Araganos, pelo Conjunto Farroupilha, por
Kleiton e Kledir, catalisou parcerias surpreendentes como de Borghetinho e
Milton Nascimento, ganhou interpretação do sambista Wilson Paim, Grupo Caverá,
Inezita Barroso, Agnaldo Rayol, Os Farrapos, Paixão Cortes, Coral Unisinos,
entre tantos.
Prenda Minha
Vou embora, vou-me embora,
Prenda minha,
Tenho muito que fazer.
Tenho de ir parar rodeio,
Prenda minha,
No campo do bem-querer.
Noite escura, noite escura,
Prenda minha,
Toda noite me atentou.
Quando foi de madrugada,
Prenda minha
Foi-se embora e me deixou.
Troncos secos deram frutos,
Prenda minha,
Coração reverdeceu.
Riu-se a própria natureza,
Prenda minha,
No dia que o amor nasceu.
Um trecho de Prenda Minha foi usado durante muito tempo como vinheta de abertura
e final das transmissões da Rádio Gaúcha. No início, tocada com um vibrafone,
depois com Geraldo Flach ao teclado.
(ZH, Caderno de Cultura, de
17-08-2000.)
Nenhum comentário:
Postar um comentário