(1888 – 1964)
Þ O nome era vagamente comprido: Álvaro Maria da
Soledade de Pinto da Fonseca Velinho Rodrigues Moreira da Silva. Reduzi a
Álvaro Moreyra, com um y encarregado de representar as supressões. Isso perante
o público. Na intimidade fiquei sendo o Alvinho... O meu registro de batismo
não muda de opinião: declara sempre que nasci no dia 23 de novembro de 1888.
Quase um ano depois, aconteceu a República.
Þ No salão da Faculdade de Direito, cheio de
estudantes, puxei do bolso um revólver, apontei-o para Carlos de Azevedo, com o
grito de um drama em cena no Coliseu: - Chegou o dia da vingança! - Pum! O tiro partiu. Felizmente,
sempre fui mau atirador. Não matei ninguém. Carlos de Azevedo era o meu melhor
amigo do curso. Eu estava convencido de que o revólver não tinha nenhuma
bala...
Þ Certos pobres nascem com
a vocação de ricos. Gozam a pequena vida.
Certos ricos nascem com a vocação de
pobre. São uns desgraçados.
Þ O corpo é bonito. Mas entristece. Desatina. O que importa
é a alma. A alma restabelece tudo... tudo que ardeu, submergiu, tombou, se
decompôs. Então a gente se lembra das belas chamas, dos repuxos atirados para
as nuvens, dos prados coloridos, das maravilhas de tantas manhãs nascendo, de
tantas tardes morrendo... Imagens, sentimentos, ideias.
Þ Como esta hora se prolonga! Tão azul, tão clara,
tão risonha! Tarde de vinte anos, para se guardar no coração, como o provérbio
bem sentiu: “sempre se têm vinte anos, num canto do coração”.
Þ Escurece. O dia morre pensando na manhã...
Þ Penso no campo. Vejo-o coberto de flores. Se eu
fosse lá, não apanharia nenhuma flor. Daria todas para a beleza da manhã.
Þ O que sentimos, o que dizemos, outros sentiram,
outros disseram. Não te magoes por isso. Perfume das rosas volta em todas as
rosas, e vê como o nosso jardim é lindo...
Þ Nunca fiz um julgamento. Absolvi logo...
Þ Máquina, não. Gosto de acariciar as palavras com
a pena.
Þ O que o sábado tem de bom é a esperança de que
amanhã é domingo.
Þ Provérbio chinês: - Se não puderes evitar que o aborrecimento entre na
tua casa, não lhe ofereça cadeira.
Þ Então como vai? - Cultivando o meu diabetezinho... - E havia doçura de verdade nas
suas palavras.
Þ Nunca é tarde para ir mais longe...
Þ Um homem de minha devoção definiu uma mulher: “É
tão verdadeira que, de começo, tem o ar um pouco simples. É preciso olhá-la
muito tempo para a ver”. E definiu a vida.
Þ Nesta idade eu podia repetir o que dizia aquela
senhora alemã, de Santa Maria da Boca Monte, sempre que se confessava: - “Eu não matei, eu não roubei,
tudo mais eu fiz”.
Þ Vivo de improviso, apesar de viver sem eloquência.
Þ É mais fácil esquecer um grande amor do que um
número de telefone...
Þ O tempo feliz é sempre o tempo que passou. Embora,
nesse tempo, se tivesse sido muito desgraçado...
Þ Benedita, a poetisa cega, me contou: - Nós não podemos ver as
expressões fisionômicas, porém conhecemos melhor, pelas mudanças da voz, as
coisas que pensa uma pessoa que está dizendo outras coisas.
Þ Um crítico literário perguntou domingo: “Que quer
dizer Hamlet quando disse: -
Ser, ou não ser... eis a questão? Eu acho que Hamlet quis dizer justamente: - Ser, ou não ser... eis a
questão.
Þ Gosto disto aqui. Aprendi, mais ou menos, o jeito
que isto tem. Não me zango. Não me lamento. Vou indo. Há tanta coisa bonita!
Þ Sempre olhei para os jardins, com doçura e
gratidão. Eles são as minhas aldeias. Tão sossegado! Só nos jardins há
amores-perfeitos. Só nos jardins, os cravos não são para crucificar, nem
ferrar. E as rosas, que sinceridade!
Þ Não é envelhecer que entristece, - e não encontrar mais moços...
Parece que a minha geração foi a última que teve vinte anos...
Þ Sou contra o equilíbrio. Acho que a gente deve cair
para poder levantar-se...
Þ Vagabundo feliz. Vai cantando e criando a música
que sai do canto e é a sua música. Homem sem rumo. Caminha para onde a estrada
o leva. Ser. Coisa. Sentimento encarnado. Natureza viva.
Þ A bondade é uma coisa que não podemos passar
adiante; ela volta sempre.
Þ Tenho reparado que as pessoas mais inimigas dos
preconceitos são as mais cheias de preconceitos. Quando expõem os seus modos de
ver, parecem umas. Quando veem, parecem outras...
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