O indivíduo mais cauteloso que
já houve nesse particular foi, porém, o explorador inglês William Forster,
cujas proezas circulam repetidas, hoje, nas páginas dos almanaques europeus.
William Forster, que não usava gelo sem mergulhar, antes na água fervendo, para
matar os micróbios, fazia a sua última travessia do continente africano quando,
nas proximidades de El Facher, no Sudão Egípcio, foi assaltado por uma centena
de negros, que lhe apreenderam a comitiva. Levado para uma senzala do deserto,
foi o pobre sábio britânico amarrado a um poste, a fim de ser, em seguida,
sacrificado à fome da tribo.
A situação de William era a mais
aflitiva. Inteiramente em pêlo, com o chapéu enterrado até as orelhas, o seu
corpo tremia de tal forma que abalava, da base ao cimo, o tronco de madeira que
o detinha subjugado. Achava-se ele nessa situação, quando saiu, de repente, de
uma palhoça, mostrando os dentes, pulando como um demônio solto, um preto de
estatura agigantada, que empunhava um facão formidável, pronto para decepar, de
só golpe, a cabeça do prisioneiro. Mister William olhou, horrorizado, a
grande lâmina enferrujada, e apenas perguntou, num gemido:
- O facão está desinfetado?
O bacteriologista Herbert
Saunders, da Universidade de Oxford, que encontrou no areal, dias depois, a
cabeça do sábio inteiramente separada do corpo, levou-a no ano seguinte para a
Inglaterra, onde se discute, ainda hoje, com veemência, se William Forster
morreu do golpe do cutelo ou se foi, apenas uma vítima da infecção.
(Do livro Tonel de Diógenes,
de Humberto de Campos)
de Humberto de Campos)
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