Frases históricas que resumem a
crônica do Brasil-Colônia,
do Brasil-Império e do
Brasil-República.
A Frase de Badaró
J.M. de Macedo - "Ano
Biográfico", vol. III, pág. 48.
Italiano, embora, de nascimento,
Libero Badaró sente-se, ao chegar ao Brasil, atraído pela grande luta que então
se travava pela nacionalização do Império nascente. Arrebatado por uma das
torrentes de paixões, funda, com outros, em S. Paulo , o Observador Constitucional, que
exerce, de pronto, enérgica influência sobre a opinião pública.
Na noite de 30 de novembro de 1830 sai Badaró da residência de um amigo quando, na esquina, é assaltado por dois indivíduos embuçados, os quais o alvejam com tiros de pistolas. Ferido gravemente, é levado para casa. Cercam-no amigos, discípulos, companheiros. Querem operá-lo, mas ele opõe-se. Médico, sabe que o ferimento é de morte. Aproxima-se a agonia. Badaró ergue-se, então, em um dos cotovelos, e exclama, como iluminado:
Na noite de 30 de novembro de 1830 sai Badaró da residência de um amigo quando, na esquina, é assaltado por dois indivíduos embuçados, os quais o alvejam com tiros de pistolas. Ferido gravemente, é levado para casa. Cercam-no amigos, discípulos, companheiros. Querem operá-lo, mas ele opõe-se. Médico, sabe que o ferimento é de morte. Aproxima-se a agonia. Badaró ergue-se, então, em um dos cotovelos, e exclama, como iluminado:
‒ Morre um liberal, mas não morre a liberdade!
O Calo
Ernesto Sena - "Notas de um
repórter", pág. 186.
Paula
Ney, o maior desperdiçador de talento que o Brasil já possuiu, não perdoava os
seus desafetos e, ainda menos, as nulidades pretensiosas que prosperavam no seu
tempo. Conservava-se, uma tarde, em um grupo na rua do Ouvidor, sobre o
prestígio da imprensa, quando um dos presentes, que se dizia jornalista,
aventurou, acaciano:
‒ A imprensa é um grande corpo...
‒ É... é... - atalhou Paula Ney, piscando por trás do
"pince-nez". - A imprensa é um grande corpo. Mas você, nesse corpo...
E sem temer a reação:
‒ É o calo do dedo mínimo do pé esquerdo!...
A Morte de Laurindo Rabelo
Melo de Morais Filho -
"Artistas do meu tempo", pág. 182.
De origem cigana, Laurindo Rabelo
tinha de ser, e era fatalista. Semanas antes da sua morte, era comum ouvi-lo
dizer, com profunda convicção:
‒ Deixarei de existir no dia e mês em que morreu meu
pai.
E assim sucedeu, efetivamente. No dia
em que tinha de fechar os olhos, pediu que chamassem um padre, pois desejava
receber a extrema unção. Este compareceu, e o poeta, sabendo-o no compartimento
anexo, abraçou a esposa, pedindo-lhe:
‒ Lê para mim a oração dos agonizantes.
E após a leitura, afagando-a:
‒ É bom que eu morra primeiro, para te ensinar como
se morre...
Colegas...
Ernesto Sena - "Notas de um
Repórter", pág. 185.
Após a sua entrada para a pasta da
Fazenda, havia o conselheiro Francisco Belisário Soares de Sousa recorrido, já,
três vezes, ao crédito do país no estrangeiro, quando, ao passar um dia pela
rua do Ouvidor, ouviu que alguém o saudava, alto:
‒ Bom dia, Senhor Conselheiro, meu amigo e colega!
O ministro voltou-se, e, vendo Paula
Ney, de chapéu na mão, numa reverência, correspondeu, atrapalhado, ao
cumprimento. E Ney, logo, com o mesmo sorriso:
‒ Colega, sim... Porque... Vossa Excelência também
não vive de empréstimos?
Respeito à Etiqueta
J.M. de Macedo - "Ano
Biográfico", vol. I, pág. 312.
O doutor Antônio Ferreira França, que
foi deputado geral pela Bahia em quatro legislaturas, entre 1823 e 1837, era
não só um dos oradores mais espirituosos da Câmara como um dos médicos mais
ilustres do seu tempo. Sentindo-se Pedro I doente, ordenou que chamassem o
médico baiano, o qual compareceu prontamente.
No correr da visita, o imperial
enfermo sentiu sede, e o doutor França, que nada entendia da etiqueta da Corte,
encheu um copo d´água, e ia dar-lhe, quando um dos camaristas o deteve, brusco,
dizendo-lhe que não lhe cabia aquela honra, que só a ele competia dar água ao
Imperador. O doutor Ferreira desculpou-se quanto pôde e, voltando ao Paço no
dia seguinte, sucedeu que estando sozinho com o monarca, este manifestasse
desejo de verter água. O "criado-mudo" estava ao alcance da mão, mas
o doutor França resolveu vingar-se; correu à porta do quarto, abriu-a, e, as
mãos em concha, gritou para o corredor:
‒ Quem é o do vaso?!... Venha, quem é o do vaso!...
Conselho de Sábio
Ernesto Sena - "Notas de um
Repórter", pág. 162.
Era o conselheiro Ferreira Viana
ministro do Império, quando, em visita à Casa de Correção, teve a sua atenção
solicitada por um rapaz de maneiras distintas, fisionomia simpática, mas
triste, que lhe pedia licença para duas palavras.
‒ Então, qual o seu crime? indagou Ferreira Viana,
com o seu ar bonachão.
‒ Senhor, eu abusei da honestidade de uma menor.
‒ A quantos anos de prisão foi condenado?
‒ A quatro; já aqui estou há dois, e faltam-me ainda
dois. Se, porém, Vossa Excelência quiser proteger-me, obtendo o meu indulto, eu
me comprometo a casar com
a ofendida.
‒ Olhe, quer um bom conselho, um conselho de amigo? -
observou-lhe Ferreira Viana, com interesse.
E batendo-lhe no ombro, paternal:
‒ Cumpra o resto da pena...
Nenhum comentário:
Postar um comentário