segunda-feira, 14 de abril de 2014

Canto à Língua Portuguesa



Canto a Língua Portuguesa,
balbucio de criança,
sutil correnteza,
estranha certeza,
prepúcio, púbis, pelanca.

Canto a Língua e uma certeza:
se a Língua se toca e se manca,
a Língua é beleza,
tamanha dureza,
delícias, dúvidas mansas.

Canto a Língua com que canto,
a Língua em que desvario,
aurora senil,
estrela, peçonha,
criança (aquela do início),

Canto o canto com que a Língua
desvaria pela boca
e remorre à míngua
e recorre assim,
ser tão céu, mar, precipício.

Canto a Língua que me chama,
a Língua louca, em delírio,
de luz, vela, chama
para ver-se chama,
para ver se vê-se lírio.

Canto a Língua Portuguesa,
Mare Nostrum, Ribeirinha,
mia branca e vermelha
que vus non vi fea,
filha de don Paay e minha.

Canto a Língua, minha mãe,
que eu me nino e ela me nina,
que é minha e que é manha,
quietinha e gadanha,
que é Língua que a Língua ensina.

Canto a Língua longa, a Langue,
a Lenha, Lua a luzir
na noite tamanha
da Fala tacanha
que dela eu sei traduzir.

Canto a Língua além da Langue,
a Além-Língua, além de mim,
essa Língua exangue,
no pântano do Sem-Fim.

(Fênix, renasce, Princesa,
dileta, precisa, linda,
Língua Portuguesa,
vinho e pão na mesa
e aquela certeza ainda.) 


Paulo Tortello

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