sábado, 19 de abril de 2014

Carta de uma mãe portuguesa a seu filho no Brasil



Querido filho:

Te escrevo esta linhas para que saibas que estou viva. Te escrevo devagar, porque sei que tu não consegues ler rápido. Bom, não vais mais reconhecer a casa quando vieres, porque a gente se mudou. Finalmente enterramos teu avô. Encontramos o cadáver com esse negócio da mudança; estava no armário desde aquele dia em que ganhou da gente brincando de esconde-esconde.

Hoje tua irmã Júlia teve um filho, mas como ainda não sei se é menino ou menina, não posso dizer se você é tio ou tia. Quem tem aparecido por aqui é o tio Venâncio, que morreu totalmente no ano passado. Teu primo Jacinto, que sempre acreditou ser mais rápido que um touro, comprovou que não era. Estou preocupada com o cachorro Boby, que insiste em perseguir os carros parados e está ficando cada vez mais chato. Ah! Finalmente os engarrafadores de refresco tiveram a grande ideia de pôr um letreiro na tampinha que diz: “Abra por aqui.” Que achas?  Teu irmão José fechou o carro com trava e deixou as chaves dentro; teve que ir lá em casa para pegar a chave duplicata e poder tirar todos nós de dentro do carro.

Esta carta te mando pelo Manolo, que vai amanhã para aí. A propósito, será que podes pegá-lo no aeroporto? Bom, meu filho, não escrevo o endereço, porque não sei. É que a última família portuguesa que vivia aqui nesta casa levou os números para não terem de mudar de endereço. Se encontrares a dona Maria, dá um alô da minha parte; caso não a encontrares, não precisa dizer nada.

Tua mãe que te ama: Eu.

P.S. Ia te mandar cem escudos, mas já fechei o envelope.





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