Carta do escritor Mario Prata ao (então) Ministro Paulo Renato
A
gente educa os
filhos direitinho, ensina o que achamos fundamental.
Educação,
honestidade, indica bons livros, explica porque o Maluf é nefasto, pede para
ele torcer pelo Corinthians, apresenta gente decente, paga milhões de reais por
bons colégios, ensina inglês e até paga o analista. Para que ele tenha um bom
futuro e seja feliz. Meus filhos sabem, por exemplo, o que é larica. Você
também sabe. Mas, para ser médico, a larica é outra. Veja mais um exemplo da
prova : "Larica é larica. Vide dicionário." Aí, para ser médico, o
jovem precisa saber se esta pequena frase é poética, fática, metalingüística,
emotiva-expressiva, referencial, conativa ou apelativa ? O que você acha, Paulo
Renato? Eu, (larica à parte e bem-vinda), não faço a menor ideia.
Será que não teria sido melhor
publicar a crônica (como foi feito) e pedir para a garotada escrever o que
quisesse, o que achasse, o que bem entendesse do que eu entendi? Deixar o jovem
manifestar a sua opinião, fazer a garota escrever no lugar de ficar ticando
opções fáticas?
O título da vestibular crônica, já
disse, era As Meninas-Moça e eu me referia ao time feminino de vôlei da Leites
Nestlé que ia acabar. Olha o que eles perguntaram aos alunos, sobre o título:
a
- ao usar meninas-Moça, não flexionou no plural o segundo elemento porque criou
um neologismo, processo que não se submete a normas da língua;
b
- ao criar um novo vocábulo, não transgrediu as regras de flexão dos compostos;
c
- usou uma flexão admissível porque o segundo elemento é um nome próprio
feminino;
d
- ao usar a expressão do composto, violentou a regra da língua que preconiza, para
esse caso, a variação no plural para os dois elementos;
e
- usou apropriadamente a forma meninas-Moça, visto que o segundo elemento tem
função apositiva.
O que você acha, ministro? Eu, fico
entre a e b. Mesmo porque eu não tenho a menor ideia do que seja uma função
apositiva. E você, Paulo Renato, vota em quem? F, H, C? Ou A, C, M? Ou M, E, C?
E agora, meu querido ministro, só
para terminar a aula, me diga, nas expressões abaixo, onde você identifica um
exemplo de intertextualidade:
a
- "... principalmente o feminino balé de braços, de loiras e altitudes
mim";
b
- "Não, leite Moça foi feito para flanar esparramado em seios esplêndidos, chacoalhando
no ar, jornadando até as estrelas";
c
- "Aquelas meninas-moças, todas voando pela quadra já fazem parte da
latinha";
d
- "Embaixo, está escrito: indústria brasileira";
e
- "...que saem de dentro da lata como que convocadas pelos gênios das
lâmpadas que iluminam."
E
agora, C, D, ou F? Já disse lá atrás, ministro e organizadores da prova, que me
sinto sinceramente envaidecido com a escolha de um texto meu. Mas jamais
poderia imaginar que, ao escrever uma crônica pensando naquelas coxas todas,
naqueles seios esparramados pelas quadras, ao escrever um texto de olho na
Karin, ao digitar uma crônica preocupado com o desemprego da minha namorada
(que fazia parte da equipe) fosse dar tanta dor de cabeça para dezenas de
milhares de jovens que querem apenas uma profissão digna para enobrecer este
nosso País tão mal-educado.
Quanto às pernas da Karin, ministro,
vá de a, b, c, de fim de papo. Sacou?
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