quarta-feira, 2 de abril de 2014

Catulo da Paixão Cearense


(1863 – 1946)

Catulo foi um homem que viveu cercado do louvor dos grandes e da estima dos humildes.

Quantas vezes eu o vi saudado nas ruas pelas glórias acadêmicas e pelo servente ou contínuo que o ouvira ao rádio, na véspera, com olhos úmidos de encanto!

É que ninguém, talvez, como ele sentira o rumor inspirado da terra.

(Murilo Araújo, no livro Ontem ao luar)

Caboca di Caxangá


Laurindo Punga, Chico Dunga, Zé Vicente
Essa gente tão valente
Do sertão de Jatobá
E o danado do afamado Zeca Lima
Tudo chora numa prima
E tudo quer te traquejá
Caboca di Caxangá
Minha caboca, vem cá
Queria ver se essa gente também sente
Tanto amor como eu senti
Quando eu te vi em Cariri
Atravessava
um regato no Patau
E escutava lá no mato
O canto triste do urutau
Caboca, demônio mau
Sou triste como o urutau
Há muito tempo lá nas moita da taquara
Junto ao monte das crivara
Eu não te vejo tu passá
Todo os dia iate a beca da noite
Eu te canto uma toada
Lá debaixo do indaiá
Vem cá, caboca, vem cá
Rainha di Caxangá
Na noite santa do Natal na encruzilhada
Eu te esperei e descontei
Inté o romper da manhã
Quando eu saia do arfará o sol nascia
E lá na vota já se ouvia
Pipiando a acauã
Caboca, toda a manhã
Som triste de acauã


Luar do Sertão


Não há, oh gente
oh não, Luar
Como esse do sertão.
Oh que saudade
Do luar da minha terra
Lá na serra branquejando
folhas secas pelo chão.
Este luar cá da cidade
Tão escuro
Não tem aquela saudade.
Do luar lá do sertão.
Não há, oh gente...
Se a lua nasce
Por detrás da verde mata
Mais parece um sol de prata
Prateando a solidão
E a gente pega
Na viola que ponteia
E a canção
É a lua cheia
A nos nascer do coração.
Não há, oh gente...
Coisa mais bela
Neste mundo não existe
Do que se ouvir um galo triste
No sertão, se faz luar
Parece até que a alma da lua
É que descanta
Escondida na garganta
Desse galo a soluçar.
Não há, oh gente...
Ah, quem me dera
Que eu morrese lá na serra
Abraçado à minha terra
E dormindo de uma vez.
Ser enterrado
Numa grota pequenina
Onde à tarde a sururina
Chora a sua viuvez.
Não há, oh gente....





Catulo da Paixão Cearense deve ser apenas o autor da letra. A melodia seria de João Pernambuco, ou mais provavelmente de um anônimo, tratando assim de um tema folclórico. Luar do Sertão foi o prefixo musical da Rádio Nacional do Rio de Janeiro.


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