- Será
que chove, compadre?
- Chove, e ligeiro. Geada
na lama, chuva na cama, diz um ditado mais velho que cagar de cocra.
- É verdade. Mas não se
esqueça que tem outro que nos reza assim: vivente que quer mentir fale do
tempo.
- Certo com dois mais dois
são quatro. E por falar em mentira, compadre, a dita cuja tem pernas curtas, e
mais depressa se pega um mentiroso que um coxo.
- E nem carece correr,
compadre. Não se esqueça que boi lerdo bebe água suja.
- Suja e bosteada. Ma por
falar em água, quem sabe a gente toma um trago daquela que passarinho não bebe?
- É pra já a canha,
compadre velho. Mulher, cachaça e bolacha em qualquer parte se acha.
- Com mulher tenho meus
desconformes. E com razão. Mais que ninguém é você que conhece minha vida.
- Mas não foi por falta de
aviso. Sempre lhe disse que mulher e cachorro de caça se conhecem pela raça.
- Não lhe tiro a razão.
Sucede que naquele tempo eu era moço, balançava que nem bola de touro e não
sabia que mulher e rabo de cachorro nunca se sabe pra que lado vão abanar.
- E era vaidosa, a Rita. E
mulher vaidosa e ovelha lanuda é facilitar e pegam carrapicho.
- Bueno, mas isso são
coisas do passado. E o que não tem remédio, remediado está.
- Nesse ponto eu fui mais
feliz, com a finada, que Deus a tenha em sua mão direita. É que eu sempre tive
por norma que onde o galo canta a galinha cacareja.
- Tás te bobeando,
compadre. Olhe que presunção e água benta cada qual toma o que quer.
- Presunção coisa nenhuma.
Acontece que na vida mais vale a prática que a gramática.
- Ah, isso é. Já dizia
Martim Fierro que “el diablo sabe por diablo, pero más sabe por viejo”.
- Além do que, compadre,
não há quem não saiba que com bicho que usa saia – padre, juiz e mulher – todo
cuidado é pouco.
- Pois eu acho que depende.
É que quem anda aos porcos tudo lhe ronca.
- Por falar em ronca, vou
fazer roncar este mate que arrematou a canha, virar a erva e...
- Gracias, compadre. Já
tomei o chimarrão pro estribo e vou andando. Tenho muito que fazer, logo mais,
e como você sabe, primeiro os encargos, depois os amargos.
- Se é assim... Mas apareça, compadre.
- Outro dia, no mais. Quem
é vivo sempre aparece...
(Do livro “Boca do
Povo”, de Apparicio Silva Rillo)
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