quarta-feira, 16 de abril de 2014

Círio de Nazaré




O que conta a História


Como acontece frequentemente com algumas tradições populares, há diferentes versões para a origem da festa do Círio de Nazaré. A lenda mais famosa diz que, por volta do ano de 1700, um caboclo chamado Plácido de Souza procurava um igarapé para matar a sede na matas que deram lugar à atual Avenida Nazaré, em Belém do Pará. Achando o riacho, abaixou-se para beber água quando viu, sobre as pedras, coberta de trepadeiras e limo, a imagem de uma santa, Levou-a para casa, limpou-a e construiu um pequeno altar de barro. Misteriosamente, durante a noite a imagem teria desaparecido. Plácido procurou por toda parte e, retornando ao igarapé onde a encontrara dias antes, lá estava a imagem sobre as mesmas pedras. Novamente a levou para casa e, na manhã seguinte, o mesmo: a escultura teria retornado sozinha ao igarapé. O caboclo concluiu que a imagem não queria sair daquele local e fez um novo altar ali mesmo, com palha e madeira, no local onde fica hoje a Basílica, tida cm uma das mais belas da América do Sul.

A notícia da santa que sumia para voltar ao seu lugar de origem correu de boca em boca. Visitantes de toda a região acorreram ao local para pedir graças. O governador da capitania, sabendo do fato, mandou levar a imagem para a capela do Palácio do Governo. No dia seguinte ela teria voltado misteriosamente para seu altar às margens do regato. Com isso, o governador, que teria ido pessoalmente ver o acontecido, ordenou a construção da basílica dedicada à Virgem. Daí a tradição de tirar a imagem de sua igreja, percorrer com ela a cidade e voltar ao ponto de origem. Na primeira procissão, o próprio governador teria ido à frente, segurando uma grande vela de cera, um círio.

(Da revista “Na poltrona”, do Grupo Itapemirim)

O fato histórico

No mesmo dia, à tarde, após a celebração da missa, o governador carregou a imagem da santa, apresentando-a à população e entregando-a ao capelão do Palácio. Teve início, então, a procissão com a tropa da cidade à frente, seguida pelos esquadrões de cavalaria, batalhões de infantaria, duas filas de cavaleiros em traje de gala, várias seges e serpentinas transportando as senhoras. O palanquim, puxado por bois e ornamentado com flores - que conduzia o padre com a santa percorreu o trajeto cercado por romeiros, o governador, com um grande círio, os membros das Casas Civis e Militar (todos uniformizados e a cavalo) e, por último, as baterias de artilharia. Escrevendo a respeito do primeiro Círio, diz Artur Vianna:

A imagem foi transportada na véspera d’aquele dia à noite da ermida para o palácio do governo. Pela iluminação de azeite da cidade, escoou-se a multidão que cercava o carro da santa até desembocar no largo da Campina, então sem as suas lâmpadas de arco voltaico, sem o seu belo teatro, sem seus circos e restaurantes, e apenas com seu belo cemitério, lúgubre, onde jaziam cadáveres dos infelizes escravos e dos pobres flagelados pela varíola. [...] No dia seguinte, à tarde, com todo o esplendor possível a uma estréia, desfilou do palácio a romaria; na frente e no couce marchava toda a tropa da cidade” (Vianna, 1904: 237).

Em 1855, baía transbordou às vésperas da procissão do Círio, transformando as ruas próximas em verdadeiros lamaçais. Durante a procissão o carro puxado por bois, que conduzia a berlinda, não conseguia passar. Alguém teve então a ideia de que seria melhor desatrelar os bois, passar uma corda em volta da berlinda e sair puxando até desatolar. Puxada pelos fiéis, a berlinda saiu do atoleiro no alagado do Piri, no Ver-o-Peso, e chegou ao Largo das Mercês. Desse modo foi levada até a ermida. Esta prática foi incorporada e, com o passar dos anos, os romeiros continuaram a usar cordas e a força dos braços para vencer os obstáculos do caminho, até que em 1868, a diretoria da festa decidiu oficializar a corda no Círio. O fato provocou alguns protestos, mas com o tempo se tornou a maior tradição da romaria.


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