O que conta a
História
Como acontece frequentemente com
algumas tradições populares, há diferentes versões para a origem da festa do
Círio de Nazaré. A lenda mais famosa diz que, por volta do ano de 1700, um
caboclo chamado Plácido de Souza procurava um igarapé para matar a sede na
matas que deram lugar à atual Avenida Nazaré, em Belém do Pará. Achando o
riacho, abaixou-se para beber água quando viu, sobre as pedras, coberta de
trepadeiras e limo, a imagem de uma santa, Levou-a para casa, limpou-a e
construiu um pequeno altar de barro. Misteriosamente, durante a noite a imagem
teria desaparecido. Plácido procurou por toda parte e, retornando ao igarapé
onde a encontrara dias antes, lá estava a imagem sobre as mesmas pedras.
Novamente a levou para casa e, na manhã seguinte, o mesmo: a escultura teria
retornado sozinha ao igarapé. O caboclo concluiu que a imagem não queria sair
daquele local e fez um novo altar ali mesmo, com palha e madeira, no local onde
fica hoje a Basílica, tida cm uma das mais belas da América do Sul.
A notícia da santa que sumia para
voltar ao seu lugar de origem correu de boca em boca. Visitantes
de toda a região acorreram ao local para pedir graças. O governador da
capitania, sabendo do fato, mandou levar a imagem para a capela do Palácio do
Governo. No dia seguinte ela teria voltado misteriosamente para seu altar às
margens do regato. Com isso, o governador, que teria ido pessoalmente ver o
acontecido, ordenou a construção da basílica dedicada à Virgem. Daí a tradição
de tirar a imagem de sua igreja, percorrer com ela a cidade e voltar ao ponto
de origem. Na primeira procissão, o próprio governador teria ido à frente,
segurando uma grande vela de cera, um círio.
(Da revista “Na
poltrona”, do Grupo Itapemirim)
O fato histórico
No mesmo dia, à
tarde, após a celebração da missa, o governador carregou a imagem da santa,
apresentando-a à população e entregando-a ao capelão do Palácio. Teve início,
então, a procissão com a
tropa da cidade à frente, seguida pelos esquadrões de
cavalaria, batalhões de infantaria, duas filas de cavaleiros em traje de gala,
várias seges e serpentinas transportando as senhoras. O palanquim, puxado por
bois e ornamentado com flores - que conduzia o padre com a santa percorreu o
trajeto cercado por romeiros, o governador, com um grande círio, os membros das
Casas Civis e Militar (todos uniformizados e a cavalo) e, por último, as
baterias de artilharia. Escrevendo a respeito do primeiro Círio, diz Artur
Vianna:
“A imagem foi
transportada na véspera d’aquele dia à noite da ermida para o palácio do
governo. Pela iluminação de azeite da cidade, escoou-se a multidão que cercava
o carro da santa até desembocar no largo da Campina, então sem as suas lâmpadas
de arco voltaico, sem o seu belo teatro, sem seus circos e restaurantes, e
apenas com seu belo cemitério, lúgubre, onde jaziam cadáveres dos infelizes
escravos e dos pobres flagelados pela varíola. [...] No dia seguinte, à tarde,
com todo o esplendor possível a uma estréia, desfilou do palácio a romaria; na
frente e no couce marchava toda a tropa da cidade” (Vianna, 1904: 237).
Em 1855, baía transbordou às vésperas da procissão do Círio,
transformando as ruas próximas em verdadeiros lamaçais. Durante a procissão o
carro puxado por bois, que conduzia a berlinda, não conseguia passar. Alguém
teve então a ideia de que seria melhor desatrelar os bois, passar uma corda em
volta da berlinda e sair puxando até desatolar. Puxada pelos fiéis, a berlinda
saiu do atoleiro no alagado do Piri, no Ver-o-Peso, e chegou ao Largo das
Mercês. Desse modo foi levada até a ermida. Esta prática foi incorporada e, com
o passar dos anos, os romeiros
continuaram a usar cordas e a força dos braços para vencer os obstáculos do
caminho, até que em 1868, a
diretoria da festa decidiu oficializar a corda no Círio. O fato provocou
alguns protestos, mas com o tempo se tornou a maior tradição da romaria.
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