domingo, 13 de abril de 2014

Comparações matutas



Acabar-se depressa como sabão em mão de lavadeira.
Agoniado como cobra quando perde a peçonha.
Andar depressa como quem vai tirar o pai da forca.
Andar devagar como quem procura com os pés penico no escuro.
Andar ligeiro que só peba em areia frouxa.
Apanhar que nem couro de pisar tabaco.
Apertado que só um pinto num ovo.
Aumentar como correia no fogo. (diminuir)

Bater palma na casa alheia como quem estuma cachorro pra acuar tatu em buraco.
Beber que só raposa.
Besta como aruá.

Café fraco que nem lavagem de espingarda.
Calça curta que só calça de pegar marreca.
Calça frouxa que nem calça de saltar riacho.
Caro que nem ovo em tempo de quaresma.
Chorão que nem bezerro desmantado.
Chorar que nem mamão verde cortado.
Chumbeado como porteira de estrada-mestra nas vizinhanças da povoação.
Contente que nem barata em bico de galinha.
Crescer pra baixo como rabo de cavalo. (ser rebaixado)

Demorar-se pouco como quem vai buscar fogo.
Depressa como quem furta.
Desarrumado que é ver gaveta de sapateiro.
Desconfiado como cachorro que quebrou a louça.
Desinquieto como galinha quando quer pôr.
Doer que só topada de madrugada.
Durar pouco que nem manteiga em venta de cachorro.

Encarnado como um fita.
Engordar da noite pro dia que nem cachorro.
Entrar macio que só colher em mamão maduro.
Escutar (auscultar) a gente, como quem procura abelha em pé de pau.
Esfomeado como cachorro de comboeiro.

Fala atrapalhada como de periquito em roça de milho novo.
Falar mais que pobre no sol, ou falar mais que o preto do leite.
Feio como a justiça do diabo, ou como a necessidade.
Furado que nem renda de papelão.

Gente muita como pomba de bando em bebida, ou que nem bosta de cabrito em porta de igreja.
Gostar tanto duma coisa como pulga de cós de saia.

"Infalive" como doce de mamão em festa de pobre.

Limpo que nem pano de coar café, ou que nem pau de galinheiro, de madrugada. (sujo)
Liso que é direito um brunidor de sapateiro.

Magro como uma imagem, ou magro como cavado de aroeira.
Malcriado como rapariga de soldado em portão de feira.
Medroso como boi do c... branco.
Medroso que nem sonhim. (sagui)
Mentiroso como cachorro de preá, ou como espingarda pica-pau.
Mole que é ver lingüiça crua.

Padecer que só sovado de aleijado em muleta.
Pasto pequeno que um periquito come de cóca. (cócoras)
Pelado que só caçote, ou garrafa.
Perverso que só jararaca do rabo fino.

Rede alta que só rede de esperar veado.
Rente como boca de bode.
Resistente que só cascavel de quatro ventas.
Rio seco que não tem água que dê nos peitos dum peba.
Ruim que nem um jirimum cheio de água.

Seco que nem língua de papagaio.
Seguro como mocotó de boi carreiro, ou como raiz de samambaia.
Ser por uma coisa como peba é por defunto, e pinto é por pé de cerca. (apreciar, gostar)
Sofrer que só pé de cego em porta de igreja.
Sono leve como o do xexéu.
Suar que só tampa de chaleira.
Sujo como boi barroso com disenteria. (O boi barroso é alvacento)

Tão besta que, pra ser burro, só falta estercar redondo.
Tão ladrão que, se vendesse um cavalo, achava jeito de se ficar com a marcha.
Tão perverso que tem coragem de matar padre celebrando missa.
Teimoso como boi de carro, ou como tranqueira de pau torto.
Ter carne nos quartos como sabiá tem nas unhas. 
Tremer como folha de catolé babão.

Valente que nem cobra de resguardo.
Velho como o chão.
Velho e barbado como dom Pedro II.
Viagem aperreada como de bacorinho em caçuá.
Vomitar que nem urubu novo.

Zangado como caititu quando bate os queixos.
Zoada grande como de fogo em tabocal.

Mota, Leonardo. Adagiário brasileiro.
Belo Horizonte, Editora Itatiaia, 1987

Nenhum comentário:

Postar um comentário