sábado, 5 de abril de 2014

De bondes



Emílio de Menezes e o Bonde

Certa vez, ia Emílio de Menezes em um bonde, quando se sentaram no banco imediato, em frente, duas senhoras de grandes banhas, que dificilmente puderam entrar no veículo. Com o peso das duas matronas o banco, que era frágil, range, estala, geme, estranhando a carga. O poeta, que observava o caso, leva a mão à boca no seu gesto característico e põe-se a rir em silêncio no seu riso sacudindo e interior. E como o companheiro o olhasse , explicou:
- Sim senhor! É a primeira vez que eu vejo um banco quebrar por excesso de fundos!...

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O Bonde Camarão

Anúncio no Estado de São Paulo, 22/05/1927


Os camarões e o guaraná espumante.
Quem quiser ir à avenida
Das linhas a preferida
Daqueles que os corações
Trazem cheios de saudade
Tem que ir, contra a vontade
Num daqueles camarões!
A gurizada mais gosta
Dos outros, porque de costa
Para a gente que maldiz
Vai com a pequena à avenida
Gozar um pouco da vida
Que corre amena e feliz
Eu por mim franco,
Viajo num qualquer banco
Seja de costas ou não
Seja de lado ou de frente,
O principal é somente
Que eu pague meu duzentão...
E tenha junto u’a mulata
Da cor dos tabletes Lacta
Me adoçando o coração
Com guaraná espumante!
O mais... que importa o restante?
Toca o bonde... camarão!

Bonde da laite

Democrático bonde! Eis o veículo
Que o carioca serve e mal o trata!
Nele, ou viaja qual sardinha em lata,
Ou como equilibrista assaz ridículo!
Nesse rodante o gingador cubículo
Põe-se lhe à prova a índole pacata:
Pisam-lhes os pés, arrancam-lhe a gravata
E em meio aos apertões fica um montículo!
O bonde, às vezes, sai dos trilhos fora
E ao projetar-se em cheio na calçada,
Quando lhe está na frente desarvora!
Mas, há pior: ao sol, à chuvarada,
Esperá-lo de pé, mais de uma hora,
No poste da tortura... o da parada.

(Otávio Rangel: Reportagens cariocas)

Músicas sobre Bonde


O bonde, principalmente no Rio de Janeiro, era o grande amigo dos foliões no Carnaval. (Dizem até que o carnaval de rua no Rio acabou, quando acabaram os bondes). Assim, houve muitas músicas principalmente de Carnaval, em que o tema era o bonde. Entre algumas delas a mais conhecida e que até hoje se ouve em bailes carnavalescos era Seu condutor gravada em 1935 por Alvarenga e Ranchinho:


"Seu condutor, dim, dim.
Seu condutor, dim, dim.
Para o bonde p’ra descer o meu amor.
E o bonde da Lapa
É cem réis de chapa
E o bonde Uruguai
Duzentos que vai
E o bonde Tijuca
Me deixa em sinuca
E
o praça Tiradentes
Não serve p’ra gente."


Em 1937 apareceu esta, de autoria de J. Cascata e Leonel Azevedo, gravada por Odete Amaral:

Não pago o bonde, iaiá
Não pago o bonde, ioiô
Não pago o bonde que eu conheço o condutor.
Quando estou na brincadeira
Não pago o bonde nem que seja por favor.
Não pago o bonde
Porque não posso pagar
O meu é muito pouco
E não chega p’ra gastar
Moro na rua das casas
Daquele lado de lá
Tem uma porta e uma janela
Mande a Light me cobrar...

Depois apareceu em 1940 O bonde de São Januário, de Ataulfo Alves e Wilson Batista, gravada por Ciro Monteiro, enaltecendo o trabalho:

"Quem trabalha é que tem razão
eu digo e não tenho medo de errar
o bonde São Januário leva mais um operário
sou eu que vou trabalhar.
Antigamente eu não tinha juízo
Mas resolvi garantir meu futuro
Sou feliz vivo muito bem
A boemia não dá camisa a ninguém."

Em várias épocas tivemos muitas músicas tendo por tema o bonde, e que se perderam no tempo. Quando houver uma antologia da música popular brasileira vamos saber quantas existiram.

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