quinta-feira, 3 de abril de 2014

Diário de um cão


Cadelinha por Soza



1ª semana – Hoje completei uma semana de vida.  Que alegria ter chegado a este mundo!

1 mês - Minha mamãe cuida muito bem de mim. É uma mãe exemplar!

2 meses - Hoje me separaram de minha mamãe. Ela estava muito inquieta e, com seu olhar, disse-me adeus. Espero que a minha nova "família humana" cuide tão bem de mim como ela o fez.

4 meses - Cresci rápido; tudo me chama a atenção. Há várias crianças na casa e para mim são como "irmãozinhos". Somos muito brincalhões, eles me puxam o rabo e eu os mordo de brincadeira.

5 meses - Hoje me deram uma bronca. Minha dona se incomodou porque fiz "pipi" dentro de casa. Mas nunca me haviam ensinado onde deveria fazê-lo. Além do que, durmo no hall de entrada. Não deu para aguentar.

8 meses - Sou um cão feliz! Tenho o calor de um lar; sinto-me tão seguro, tão protegido... Acho que a minha família humana me ama e me consente muitas coisas. O pátio é todinho para mim e, às vezes, me excedo, cavando  na terra como meus antepassados,  os  lobos  quando  escondiam  a  comida. Nunca me educam. Deve ser correto tudo o que faço.

12 meses - Hoje completo um ano. Sou um cão adulto. Meus donos dizem que cresci mais do que eles esperavam. Que orgulho devem ter de mim! 13 meses - Hoje me acorrentaram e fico quase sem poder movimentar-me até onde tem um raio de sol ou quando  quero  alguma  sombra.  Dizem que vão me observar eque sou um ingrato. Não compreendo nada do que está acontecendo.

15 meses - Já nada é igual...  Moro na varanda.  Sinto-me  muito  só. Minha família já não  me  quer!  Às vezes esquecem que tenho  fome e sede.  Quando  chove,  não tenho teto que me abrigue...


16 meses - Hoje me desceram da varanda. Estou certo de que minha família me perdoou Eu fiquei tão contente que pulava com gosto. Meu rabo parecia um ventilador. Além disso, vão levar-me a passear em sua companhia! Nos direcionamos para a rodovia e, de repente, pararam o automóvel. Abriram a porta e eu desci feliz, pensando que passaríamos nosso dia no campo. Não  compreendo porque fecharam a porta e se foram. "Ouçam, Esperem!" Lati... se esqueceram de mim...  Corri  atrás  do  carro com todas as minhas forças. Minha angústia crescia ao perceber que quase perdia o fôlego e eles não paravam. Haviam me esquecido....

17 meses - Procurei em vão achar o caminho de volta ao lar. Estou e sinto-me perdido! No meu caminho existem pessoas de bom coração que me olham com tristeza e me dão algum alimento. Eu lhes agradeço com o meu olhar, desde o fundo de minh'alma. Eu gostaria que me adotassem: seria leal como ninguém!  Mas  somente dizem: "pobre cãozinho, deve ter se perdido."

18 meses - Um dia destes, passei perto de uma escola e vi muitas crianças e jovens como meus "irmãozinhos". Aproximei-me e um grupo deles, rindo, me jogou uma chuva de pedras "para ver  quem  tinha  melhor  pontaria".  Uma dessas pedras  feriu-me o olho e desde então, não enxergo com ele.

19 meses - Parece mentira. Quando estava mais bonito, tinham compaixão de mim. Já estou muito fraco; meu  aspecto  mudou.  Perdi o meu olho e as pessoas me mostram a vassoura quando pretendo deitar-me numa pequena sombra.

20 meses - Quase não posso mover-me! Hoje, ao tentar atravessar a rua por onde passam os carros, um me jogou! Eu estava no lugar seguro chamado "calçada", mas nunca esquecerei o olhar de satisfação do condutor, que até se vangloriou por acertar-me. Quisera que tivesse matado!  Mas só  me  deslocou  as  cadeiras!  A  dor  é terrível!  Minhas patas traseiras não me obedecem e com dificuldade arrastei-me até a relva, na beira do caminho.

Faz dez dias que estou embaixo do sol, da chuva, do frio, sem comer. Já não posso mexer-me! A dor é insuportável!  Sinto-me muito mal;  fiquei  num lugar úmido e parece que até o meu pelo está caindo... Algumas pessoas passam e nem me vêem; outras dizem: "não chegue perto".Já estou quase inconsciente; mas alguma força estranha me faz abrir os olhos. A doçura de sua voz me fez reagir. "Pobre cãozinho, olha como te deixaram", dizia... junto com ela estava um senhor de avental branco. Começou a tocar-me e disse: "Sinto muito, senhora, mas este cão já não tem remédio". É melhor que pare de sofrer". A gentil dama, com as lágrimas rolando pelo rosto, concordou. Como pude, mexi o rabo e olhei-a, agradecendo-lhe  que  me ajudasse a descansar. Somente senti a picada da injeção e dormi para sempre,  pensando em porque tive que nascer se ninguém me queria...


Ajude a abrir a consciência dos ignorantes e,
assim, poder acabar com os maus tratos aos animais,
especialmente com o problema dos cães de rua.


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