Paula Nei
Trança
Esta santa relíquia imaculada
Do teu saudoso amor, esta
lembrança
Da vida, que fugiu arrebatada,
Ligeira, como um sonho de criança.
Nas noites do meu sono de bonança
Eu guardo, junto a mim, ah! noiva
amada,
Enquanto minha vista não se cansa
De vê-la, de adorá-la,
extasiada...
Com o fio desta trança tão escura,
Tão negra, sim, que até minha
amargura
Invejara-lhe a cor, e tão macia,
Qual pétala de rosa, eu teço, à
noite,
Da viração sentindo o brando
açoite,
O epitáfio de minha campa fria.
Tu és Minha
Tu és minha, afinal. Enfim te vejo
Sobre meus braços lânguida,
prostrada,
Enquanto em tua face descorada
Os lábios colo e sorvo-te num
beijo.
Vibra em minha alma o lúbrico
desejo
De assim gozar-te, a sós,
abandonada,
De sentir o que sentes, minha
amada,
De escutar-te do peito o doce
arpejo.
Quando, entretanto, sinto que teu
seio
Palpita, delirante, em doido
anseio,
Como a luz que do sol à terra
emana,
Eu digo dentro de mim: ‒ “Se eu
te manchara,
Se eu te manchara, flor, eu não
te amara,
Ó branca espuma da beleza humana!”
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