sábado, 5 de abril de 2014

Emílio de Menezes



Quadras encomendadas pela Cerveja Brahma

Escrito no dia 15 de dezembro:


O José Bonifácio se insulava
Nessa ilha pitoresca, Paquetá!
Lugar que a água de coco dominava
E a Brahma-Porter dominando está.

Escrito no dia 21 de fevereiro:

O pintor Victor Meireles,
Que faleceu nesta data,
Dizia que ao próprio Zoeller
Já era a cerveja grata.


Escrito no dia 11 de abril:

Nesta data morreu nosso Macedo,
Autor do Moço Loiro e Moreninha.
Quando o releio penso assim em segredo:
Um chope loiro e um copo da Negrinha.



Prosopopeia da Peppa ao Pupo


Parece peta. A Peppa aporta à praça
E pede ao Pupo que lhe passe o apito.
Pula do palco, pálida, perpassa
Por entre um porco, um pato e um periquito.

Após, papando, em pé, pudim com passa.
Depois de peixes, pombos e palmito,
Precípite, por entre a populaça,
Passa, picando a ponta de um palito.

Peças compostas por um poeta pulha,
Que a papalvos perplexos empunha,
Prestando apenas p'ra apanhar os paios,

Permuta a Peppa por pastéis, pamonha...
— Que Peppa apupe o Pupo e à popa ponha
Papas, pipas, pepinos, papagaios!

O.L.

De carne mole e pele bambalhona,
Ante a própria figura se extasia.
Como oliveira — ele não dá azeitona,
Sendo lima — parece melancia.

Atravancando a porta que ambiciona
Não deixa entrar nem entra. É uma mania!
Dão-lhe por isso a alcunha brincalhona
De pára-vento da diplomacia.

Não existe exemplar na atualidade
De corpo tal e de ambição tamanha,
Nem para intriga igual habilidade.

Eis, em resumo, essa figura estranha:
Tem mil léguas quadradas de vaidade
Por milímetro cúbico de banha.

(O.L. sigla do nome Oliveira Lima, desafeto do poeta.)
Publicado no livro Mortalhas: os deuses em ceroulas (1924).

O Meu Batismo


Quis alegre surgir pela manhã
Do dia de hoje a procurar alguém
Que quisesse a alegria honesta e sã
Que estas páginas trêfegas contêm.

Fugindo ao nosso eterno rã-me-rã
Busquei um nome que casasse bem
Aos gostos de uma folha folgazã
E a meu próprio aqui dou meu parabém!

Lembraram-me diversos, mas nenhum
Deles, não sei por que, pude achar bom
E quase estive a batizar-me Pum!

Mas passa um automóvel. Pego o som:
- Fan-fan! Fen-fen! Fin-fin! Fon-fon! Fun-fun! 
De fan-fen-fin-fon-fun, quis ser Fon-Fon!


Fon-Fon, Rio de Janeiro, 1, abril, 1907.


Nenhum comentário:

Postar um comentário