Luís Fernando Veríssimo
Jogadores
de futebol podem ser vítimas de estereotipação. Por exemplo, você pode imaginar
um jogador de futebol dizendo “estereotipação"? E, no entanto, por que
não?
- Aí, campeão. Uma palavrinha pra galera.
- Minha saudação aos
aficionados do clube e aos demais esportistas, aqui presentes ou no recesso dos
seus lares.
- Como é?
- Aí, galera.
- Quais são as instruções do técnico?
- Nosso treinador
vaticinou que, com um trabalho de contenção coordenada, com energia otimizada,
na zona de preparação, aumentam as probabilidades de, recuperado o esférico,
concatenarmos um contragolpe agudo com parcimônia de meios e extrema
objetividade, valendo-nos da desestruturação momentânea do sistema oposto,
surpreendido pela reversão inesperada do fluxo da ação.
- Ahn?
- É pra dividir no meio e ir pra cima pra pegá eles sem
calça.
- Certo. Você quer dizer mais alguma coisa?
- Posso dirigir uma
mensagem de caráter sentimental, algo banal, talvez mesmo previsível e piegas,
a uma pessoa à qual sou ligado por razões, inclusive, genéticas?
- Pode.
- Uma saudação para a minha progenitora.
- Como é?
- Alô, mamãe!
- Estou vendo que você é um, um...
-
Jogador que confunde o entrevistador, pois não corresponde à expectativa de que
o atleta seja um ser algo primitivo com dificuldade de expressão e assim sabota
a estereotipação?
- Estereoquê?
- Um chato?
- Isso.
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