terça-feira, 8 de abril de 2014

Fábulas de Belmiro


Quem o alheio veste...

Vendo um jumento a dose de importância
Que tem em certas classes o cavalo,
Pôs selim e arqueou com elegância,
Tratando o mais possível de imitá-lo.

Depois foi para a feira, airoso e lindo,
E, na verdade, os outros animais
Saudaram com respeito o recém-vindo,
Atendendo aos bonitos atafaes.

“Vossa Excelência é cavalo, ou coisa assim?”
Perguntaram os brutos ao jumento,
“Se sou cavalo?! Já se vê que sim.”
O vaidoso orneou, profundo e lento.

Ouvindo em vez de rincho aquele zurro,
Os outros conheceram-lhe o disfarce
Por mais que tente disfarçar-se um burro
          


Cata-vento
  
Viva lá, senhor galo cata-vento!
Fale à gente, não seja malcriado!
Lá por ter o poleiro no telhado
Não suponha que está no firmamento!

Como percebe de onde sopra o vento
E sabe do equilíbrio o seu bocado,
Já se imagina bacharel formado,
Julga que tem carradas de talento!

Vaidade! Pedantismo sem mistura!
No fundo, duas tretas, bagatela,
Que só entre patetas figura.

O que você, amigo, não revela
É que antes de ser galo, nessa altura
Foi uma reles tampa de panela!


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