Álvaro Moreyra
Em
todas as esquinas, em todas as ruas, nos refúgios, nas praças, nos cais, ele
surge, de cara espantada e alegre, roupas sobrando, um grito em cada canto da
boca. Salta do estribo dos bondes, trepa na janela dos ônibus, zune numa finca
atrás dos automóveis.
É um e é
chusma.
Reticências da
cidade...
Pobreza picada
em pedacinhos, para ninguém saber como a pobreza é grande.
Garoto...
Tico-tico que
cresceu, com as asas escondidas.
Os outros
meninos ganham nomes: Fred, Vivinho, Didi, Maneco, Janjão, Juca, Totonho,
Chiquinho...
Ele, não.
É o garoto...
Mais nada.
Mas os outros
meninos não andam sozinhos.
Ele anda.
É a riqueza que
tem.
Mas os outros
meninos não estão num monumento.
Ele está.
O garoto jornaleiro
nasce nos subúrbios, brota dos cortiços, rola dos morros.
Filho do
trabalho e da tristeza, substantivos comuns.
Herdou do pai a
atividade sem proveito.
A mãe, quando o
viu sair de casa pela primeira vez, botou nele os olhos com uma doçura tão
longa, tão funda, que o garoto nunca mais se importou de andar vestido de
farrapos; entre rasgões, acariciando-o todo, ele sente aquele olhar.
Desde que
amanhece até a noite acabar, de pregão aceso, não pára, não descansa.
Diferente do
baleiro e do vendedor de “minduim”, e do que aborrece, a insistir para que se
compre o último “gasparinho” com o final da cobra.
Diferente do
moleque. Não corre na frente das bandas de música. Não empina papagaios. Não
tasca balões.
Incapaz de
pedir.
Grita a
mercadoria.
Quem quiser que
o chame.
E é o único negociante que dá o troco certo...
Outro sem nome, que não existe mais, o padeiro. Oi padeiro, traz um pão aqui.Como se você não anunciar, não vende, havia aqueles , que ao invés de sentir no grito do garoto padeiro, um anunciante em potencial, sentia-o um perturbador do silêncio. E aquilo era festa. Justamente na porta desses, o garoto padeiro transformava seu instrumento de trabalho, em instrumento de provocação. E enquanto o provocado, não saísse xingando, não tinha graça. E por volta das 5 horas da manhã, já estava na rua, o pequeno anunciante. Acontecia de perder a hora, só que para mais cedo. Mas isto é outra história. OLHA O PADEIRO!!!
ResponderExcluirAntônio Moreira
27981440265
Boa sugestão de matérias de profissões infantis que, (in)felizmente não existem mais...
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