Os patos
“Ruy Barbosa”, ilustre
intelectual brasileiro, ao chegar em casa, ouviu estranho barulho vindo do seu
quintal. Chegando lá, constatou haver um ladrão tentando levar seus patos de
estimação.
Aproximou-se vagarosamente do
indivíduo, surpreendendo-o ao tentar pular o muro com seus amados patos.
Batendo nas costas do invasor disse-lhe em tom altamente catedrático:
- Bucéfalo anácrono, não o interpelo pelo
valor intrínseco dos bípedes palmípedes e sim pelo ato vil e sorrateiro de
galgares os profanos de minha residência, levando meus ovíparos à sorrelfa e à socapa. Se fazes isso por necessidade,
transijo; mas se é para zombares de minha alta prosopopeia de cidadão digno e
honrado, dar-te-ei com minha bengala fosfórica no alto de tua sinagoga que te
reduzirá a quinquagésima potência que o vulgo denomina nada.
E o
ladrão, confuso, pergunta-lhe:
- Senhor, eu levo ou deixo os patos?
A travessia
“Ruy Barbosa”, com um grosso livro
debaixo do braço, querendo atravessar um rio, dirige-se a um barqueiro negro e
pergunta-lhe:
- Ébano, quanto almejas de
pecúlio para transportar-me nesse teu instrumento de labor, deste polo àquele
hemisfério?
O barqueiro, boquiaberto e não
entendendo nada, faz um gesto que parece ser de desdém.
Ruy Barbosa visivelmente enfurecido, replica ao barqueiro:
- Se fizeste isso por
ignorância, perdoo-te; mas se o fizeste para ofender-me, dar-te-ei com esta
fonte de luzes pela cabeça, e te reduzirei à quinta substância da camada do pó
que te envolve!
O
barqueiro, embasbacado com tantas palavras difíceis, pergunta:
- É
pra travessá o rio, sinhô?
Ruy e o caipira
Em noite de feroz inspiração, “Ruy Barbosa” saiu a passeio pelo campo, e, topando com um roceiro que contemplava o
luar, disse-lhe:
- És um amante do belo!
Acaso, já viste também os róseos-dourados dedos da aurora tecendo uma fímbria
de luz pelo nascente, ou as sulfurosas ilhotas de sanguíneo vermelho pairando
sobre um lago de fogo a esbrasear-se no poente, ou as nuvens como farrapos de
brancura obumbrando a lua, que flutua esquiva, sobre um céu soturno?
- Ultimamente, não -
respondeu o caipira pasmado. Faz um ano que num boto pinga na boca.
Ruy e o bêbado
Um dia, passeando na rua do
Ouvidor, no centro antigo do Rio de Janeiro, “Ruy Barbosa” viu um bêbado,
dormindo na calçada com a bunda de fora. Ruy fez o seguinte comentário ao amigo
que o acompanhava:
− O orifício circular corrugado,
localizado na região inferior lombar de um cidadão em alto estado etílico,
deixa de estar em consonância conforme os ditames vigentes na sociedade e
conforme as leis de propriedade vigente. Ou melhor dizendo: “Cu de bêbado não
tem dono!”.
Ruy Barbosa e o amigo apressado
“Ruy Barbosa” encontra um velho amigo, muito apressado, na rua, e o interroga:
− Alfredo,
aonde vais tão lesto, expedito, circunspecto e assaz atribulado?
− Bem, eu ia cagar, mas antes vou procurar um dicionário!
Vaca à venda
Um dia, Ruy Barbosa resolveu
colocar uma de suas vacas à venda. Então, ele colocou em um jornal o seguinte
texto:
“Extraordinária vaca à venda! Refinamento vividamente estampado em sua
face. Olhos expressivos e saúde robusta. Lombo e cauda sobrepassam a grandeza
da clássica escultura grega. Suas pernas, de soberbo desenho, infundem
respeito. Sua figura doce e atraente transpira qualidade, valor e beleza.
Personalidade sumamente acolhedora. Nascida nos românticos prados da Granja
Sublime na Ilha das Hortênsias. Tratar com o meu caseiro Chico Flores.”
Toma lá, dá cá...
Quando Ruy Barbosa iniciava sua
profissão na Bahia, apareceu-lhe em casa, certa vez, um açougueiro,
perguntando-lhe:
‒ Se o cachorro de um
vizinho lhe furta um pedaço de carne, pesando 5 quilos,o dono do cachorro é
obrigado apagar?
‒ Tem
testemunhas?
‒ Tenho.
‒ Pois
trate de receber a importância.
‒ Pois, então, o doutor me deve 7$500; Foi seu cachorro que roubou a carne.
O futuro jurisconsulto fez o
pagamento, sem bufar, e, quando o açougueiro ia saindo, chamou-o:
‒ Vem
cá! E a consulta?
‒ Tenho que pagar?
‒ Naturalmente. São 15$000.
O calhau de pedra
Um dia, um filho de “Ruy Barbosa” chega em casa chorando, com
a cabeça sangrando, sujando-lhe o rosto e pingando gotas de
sangue pelas roupas e pelo chão.
‒ Que
foi, meu filho?
O
garoto mostra um calhau de pedra.
‒ O
filho do vizinho me tacou esta pedra na cabeça.
Ruy Barbosa pega a pedra e examina:
‒ Meu filho, isto não é um
simples calhau de pedra. É uma formação rochosa, do período mesozoico. Um
quartzo com formação de carbono que pode ser fruto de lava vulcânica.
E o
coitado do filho, sangrando e chorando até que o pai se compadece:
‒ Venha, filho, vou passar-lhe um lenimento para aliviar o seu padecer.
A lição de Português
Ruy Barbosa mandou fazer um
conserto em casa. No
fim, o cidadão encarregado da tarefa apresenta a conta: C$ 25,00. “Mas tudo
isso?”, pergunta Rui. “Ora, doutor, pra mim fazer este conserto, gasto muito
tempo e...” no que foi interrompido pelo acadêmico: “Pra mim é errado. O certo é dizer para eu”. E concluiu: “Agora, cobro-lhe C$ 5,00 pela lição de
português e só lhe devo, portanto, apenas C$ 20,00” .
Observação:
Ruy Barbosa, pelo estilo de linguagem sofisticada, passou a ter "histórias" atribuídas a ele, mais pelo folclore humorístico do que fatos verdadeiros. É por isso que colocamos o nome "Ruy Barbosa" entre aspas.
Ruy e a caricatura
Poucos homens na história do
Brasil foram tão caricaturados como Ruy Barbosa. Sua primeira charge conhecida,
de autoria de Ângelo Agostini, data de 1879, e foi publicada na Revista
Ilustrada. Desde então, diversos outros artistas do seu tempo, como J. Carlos,
Raul, Kalixto, Seth, Storni e Bambino, procuraram realçar, cada qual a seu
modo, a cultura, a inteligência e os aspectos físicos de Ruy Barbosa. Por
ocasião das comemorações do centenário do seu nascimento, em 1949, o pesquisador
Herman Lima lançou o livro “Rui e a caricatura”, um extenso levantamento da
vida pública do personagem através do traço de diversos caricaturistas.
Nos tempos de hoje, nós com a nossa ignorância linguística, ao lermos os contos que fazem referência ao grande Rui Barbosa devemos nos sentir felizes por termos sidos presenteados por Deus uma sabedoria dessa ter nascido em solo brasileiro.
ResponderExcluirObrigado Rui Barbosa por todo ensinamento que deixou para o mundo.
Um SHOW , sempre Rui Barbosa !
ResponderExcluirHilárias anedotas que desligam-me dos afazeres que urgem .......Rsrsrsrsrs....
ResponderExcluirUm homem muito inteligente com tanta arrogância como,vai falar assim com um barqueiro. Se e comigo eu pergunta, vai se fuder mano quer passar a porra do rio fala logo não vem encher a porro do saco.
ResponderExcluirAmigo "Carpe diem", essa história nunca aconteceu. Ela faz parte do folclore literário brasileiro, porque Ruy Barbosa, por ser erudito, falava buscando palavras difíceis. E se ele, um dia tivesse numa situação real com um barqueiro, ele jamais falaria assim.
ResponderExcluirAquele que nem a língua pátria consegue compreende, quiçá compreenderá a própria pátria. Razão pela qual o país é o que. Ignorantes elegem bucéfalos para governá-los.
ResponderExcluirMuito bom
ResponderExcluirPeculiar meu caro Watson.
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