Leonel Brizola
comandando a Rede da Legalidade.
O
antigo Mata-Borrão era o local de recrutamento da população gaúcha que queria
Lutar pela legalidade. Certa noite, chegou um gaúcho pilchado – vestido a
caráter – integrante de um Centro de Tradições Gaúchas e apresentou-se ao chefe
do alistamento:
− Sou lá do interior e viemos
aqui nos apresentar para defender a Legalidade.
− Mas onde está seu grupo,
quantos são?
− Pra lutar só eu, os outros
são da invernada artística.
*****
Mata-borrão por Xico
*****
Uma senhora grita na Praça da
Matriz:
− Rasgaram a Constituição!
Um senhor grisalho, de terno
claro, responde na hora:
−Não se preocupe, senhora,
que o Brizola tem outra na gaveta.
*****
Mais
de 400 jornalistas credenciaram-se na assessoria de imprensa. As credenciais
eram batidas à máquina e assinadas por Hamilton Chaves. Uma tarde, ele reuniu
os correspondentes estrangeiros – havia gente do mundo todo – e tentou amaciar
a turma. Após um breve discurso, ele pede que todos mostrem as suas credenciais.
Entre
preocupados e curiosos, os quarenta profissionais sacaram imediatamente as
cartas datilografadas que o governo gaúcho lhe fornecera. Hamilton, revólver na
cintura, continuou: “Estou pedindo isso, apenas pra dizer o seguinte: como esse
movimento é democrático e de improviso, eu não tive tempo de plastificar as
credenciais. Mas na próxima revolução, pra mostrar que talvez seja pra valer,
nós vamos ter documento plastificado.”
*****
Às
duas da manhã, Josué Guimarães, que dormitava num sofá, a metralhadora ao lado,
é sacudido pelo jornalista Carlos Contursi, da assessoria de imprensa do
Piratini:
− Acorda,
Josué, os tanques da Serraria estão chegando!
− Que
horas são, Contursi?
− Duas
da manhã.
− Contursi,
deixa eu dormir... Me chama quando chegarem os tanques das quatro...
*****
Gudy
Edmunds, estrela do programa Patrulheiro Toddy, da TV Piratini, chegou,
acompanhado de um grupo de fãs do programa devidamente uniformizados, para
juntar-se aos militantes. Os rapazes receberam armas, para irritação de um
senhor já idoso, que protestou: “Olha aqui, o perigo é esses guris atrás da
gente, porque eles estavam reclamando pra mim que os fuzis estavam furados.
Eles pegaram bala de 22 e queriam botar nos fuzis. Quando baixavam o cano, a
bala saía”.
*****
Quando
a perspectiva de um ataque parecia mais real, dom Vicente Scherer voltou ao
Piratini. Abraçou dona Neusa e procurou confortá-la: “Não vai ser nada, dona
Neusa. E se for, que os primeiros tiros seja para mim”.
Brizola
soube da história e deu mais colorido ao diálogo que não presenciou, mandando
divulgar que o arcebispo de Porto Alegre estava no palácio, pronto para
sentar-se na frente do prédio e receber o primeiro tiro.
Numa
noite de pouca comida no Porão, Hamilton Chaves providenciou duas galinhas para
cozinhar com arroz. Apareceram dezenas de bicões – e ele tratou de espalhar o
boato de que vários jatos tinham saído de Curitiba com a missão de bombardear o
palácio (nenhum avião de guerra tinha tal autonomia de voo). O lugar ficou
quase vazio, e o jantar deu para todos.
*****
Para
saudar a Legalidade e seus defensores ou criticar o inimigo solerte, toda forma
de expressão era válida, como a oração assinada por Lia Correa, da rua Fernando
Machado.
Salve
a Constituição!
Gaúcho
valente e bravo,
que
jamais será escravo
de
ditaduras cruéis.
Nosso
grito já se expande
de
norte a sul do Rio Grande
em
direção aos quartéis.
Nosso
grito é de união
pra
libertar a Nação
das
garras do Imperialismo.
Lacerda
– Judas maldito
há
de cair frente ao grito
de
justiça e patriotismo.
A
multidão acordou
pra
grande realidade,
pois
a carta de Getúlio
retrata
bem a verdade
sobre
o dólar da traição.
Nasceu
o grito de alerta
unido
ao de Jânio Quadros
que
o no Rio Grande desperta
pra
grande libertação.
.............................................
Avante,
irmãos do Brasil!
Avante,
ó povo gaúcho!
Que
estamos com a razão.
Avante!
Todos unidos!
Sem
distinção de partidos...
E
salve a Constituição!
Histórias retiradas de Veja Rio Grande
do Sul, agosto de 1991,
e do livro “1961 Que as armas não
falem”,
de Paulo Markun e Duda Hamilton.
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