Há
vários anos atrás, antes que a idade obrigasse Carlos Cachaça a passar os dias
quase sempre dentro de casa, um jornalista telefonou querendo falar com o
compositor mangueirense. Dona Menininha, esposa do poeta, atende:
- Alô! - De onde falam? - É da casa de Carlos Cachaça. - Ele está?
- Não, meu filho. Ele está pela rua fazendo jus ao nome...
- Não, meu filho. Ele está pela rua fazendo jus ao nome...
* * * * *
Aqui vai uma de Nelson Sargento,
figura rara, artista de imenso valor, memória viva do samba: certa ocasião, em
um dos encontros com o amigo Cartola, cantou-lhe algumas músicas inéditas.
Cartola achou-as muito bonitas e perguntou de quem eram. Nelson Sargento
respondeu: "São suas". E emendou: "Se me der parceria canto mais
umas dez que você não lembra". É claro, na brincadeira.
* * * * *
Num
fim de tarde estavam Noel (Rosa) e Ismael (Silva) conversando na Galeria
Cruzeiro quando chega alguém e bate no ombro de Noel.
- Noel, Noel Rosa! Que bom você estar aqui! Estava
mesmo à sua procura!
O sujeito tira do bolso uma folha
amassada de papel dizendo que acabou de fazer um Samba que precisa só de
pequenos retoques. Coisa boa. Francisco Alves ou Carmen Miranda iriam querer
gravar...
- Será que você me dava uma ajuda?
O sujeito canta o Samba. Noel e
Ismael ouvem atentos. Noel, nas folhas amassadas, vai fazendo os retoques. Tira
daqui, acrescenta dali, modifica umas passagens melódicas e pronto. Noel canta
para o "autor" o novo Samba. O homem e Ismael ficam assombrados.
- Obrigado, Noel. Era isso mesmo que estava faltando.
E o sujeito se vai. Ismael, ainda
impressionado, diz que o Samba ficou realmente muito bom.
- Você nem tirou cópia. - Deixa pra lá. - E o camarada, quem é? - Não sei. Nunca o vi antes.
* * * * *
Em março de 1963, Jacob do Bandolim,
dono de ouvido apuradíssimo, enviou uma carta a Sérgio Cabral onde, ao traçar
alguns comentários sobre a bossa-nova, contou a seguinte passagem: "...
Quando, pela primeira vez, ouvi o Chega de Saudade e soube que era de Tom
Jobim, senti que algo havia errado. Graças a Lúcio Rangel, com ele travei
conhecimento no Bar Zepelim e, inopinadamente, perguntei-lhe como era,
realmente, aquele Samba. Jobim, surpreendido, respondeu: "Como é que você
sabe que as 17 gravações que dele já existem estão todas erradas?"... E o
Lúcio, quando o ouve como é, por um bandolim, dois violões e um cavaco, sente
sádicos prazeres. É simples obter tal efeito: basta acompanhá-lo à
brasileira..."
* * * * *
Em 1956. Ary Barroso recebe a boa
notícia de que Jamelão entrava na parada de sucessos com a gravação de Folha
Morta. O êxito deste disco não deixou de ser uma surpresa, já que se esperava,
na verdade, o sucesso da gravação de Dalva de Oliveira, um nome, na época, bem
mais popular do que o do cantor. Além disso, Jamelão trocou uma palavra na
letra de Ary Barroso (em vez de "pagar minhas penas", cantou "mostrar
minhas penas"), cometendo o mesmo erro da gravação de Dalva e que seria
repetido em várias gravações posteriores. Quando o disco saiu, Jamelão levou-o
a Ary Barroso, pois estava muito animado com a gravação e queria a
aprovação do exigente autor. Após ouvirem juntos, Ary comentou:
- Você tem razão. A gravação está excelente. Mas eu
não posso "mostrar" minhas penas, Jamelão! Não sei se você já
percebeu, eu não tenho penas, Jamelão! Eu sou um animal implume, Jamelão!
* * * * *
Esta nega qué mi
dá
Caninha
A melodia é pobre, a letra apenas
razoável: "Esta nega / Qué mi dá / Eu não fiz nada / Pra apanhá...".
Mas o título de duplo sentido acabaria por fazer deste samba um dos sucessos do
carnaval de 1921.
Seu autor, Caninha
, aqui em parceria com o bailarino Lezute, foi um dos mais ativos compositores
da primeira geração de sambistas, chegando a rivalizar com Sinhô no início dos
anos vinte. Seus sucessos, porém, ficaram restritos a esse período, embora ele
tenha vivido até 1961. Frequentador da casa da Tia Ciata,
Caninha (Oscar José Luís de Morais) ganhou o apelido quando, adolescente,
vendia rolete de cana nas imediações da Central do Brasil, no Rio de Janeiro.
O Caninha, sempre procurou seguir as
pegadas do Sinhô, não logrando, porém, o mesmo sucesso. Por mais que se
esforçasse, o Caninha jamais conseguiu sequer aproximar-se do Rei do Samba, ou
ter um lugar de destaque na sua Corte... É que as produções do conhecido
musicista, quase sempre pecavam pelo imprevisto... asnático, tão próprio do
popularíssimo compositor que teve o topete de dizer que o Maestro Francisco
Braga, ouvindo no cinema Odeon este samba, manteve com ele o seguinte diálogo:
Maestro Francisco Braga:
- Seu Caninha, o senhor sabe música?
Caninha: (risonho e amável)
Caninha: (risonho e amável)
- Maestro eu engulo um bocadinho de cabeça de
nota!...
Maestro Francisco Braga: (entusiasmado)
Maestro Francisco Braga: (entusiasmado)
- Pois olhe, seu Caninha, este seu samba, até parece
música clássica!
Caninha:
Caninha:
- Se isto é verdade, o maestro Francisco Braga está
na obrigação de uma grande penitência perante Santa Cecília!
(Na Roda do Samba - Francisco
Guimarães (Vagalume)
- Rio de Janeiro, 1933)
- Rio de Janeiro, 1933)
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