O herói da novela
Renato Maciel de Sá
Júnior
Corriam os tempos heroicos das
radionovelas, audiência absoluta antes da televisão. Os capítulos iam para o ar
ao vivo. Ainda não eram usadas gravações.
A massa de ouvintes da Rádio
Farroupilha acompanhava o dramático final de uma comovente história de amor e
violência. A trama fluía emocionante. O galã, interpretado por Walter Ferreira,
finalmente encontrara o odiado vilão, refugiado no último andar de um edifício.
– Ah, canalha, chegou tua hora!
Prepara-te para morrer. Neste revólver está a bala que reservei para ti todos
esses anos. Toma. Miserável, morre!
Naquele exato momento, nos
estúdios da Farroupilha, na Duque de Caxias com o viaduto da Borges de
Medeiros, o sonoplasta manuseou rapidamente o disco onde as diversas faixas
continham toda a variedade de sons e ruídos, como tropel de cavalos, trem
andando, badalo de sino, etc. Ao invés do esperado tiro, porém, na transmissão,
ouviu-se o desconcertante mugido de uma vaca.
Walter Ferreira consertou rápido:
– E não adianta te esconderes atrás da vaca, miserável!
(Do livro:
“Anedotário da Rua da Praia 1, Editora Globo)
***
Tiro ou facada?
No programa “O Sombra” (Quem sabe
o mal que se esconde nos corações humanos.O Sobra sabe... Ah! Ah! Ah!), Roberto
Faissal fazia um detetive que está frente a frente com perigoso bandido. Ao ser
atacado, ele saca de sua arma e dá um tiro no meliante. O sonoplasta usa uma
arma com festim para fazer o som do tiro, mas o que se ouve é apenas um
“tleck”, “tleck” de arma falhando, e o barulho não sai. O radioator resolve
improvisar:
− Ah! Canalha, já que a arma falhou vou te matar com esta
faca!
E, neste, instante, se ouve o barulho de um tiro:
Bum!
(Contado por Roberto
Faissal em programa de TV)
***
Foi em 1952. Era o mês de junho.
Eu fizera uma radiofonização da vida de Santo Antônio e nossa improvisada
equipe de radioteatro estava a apresentá-la com capricho e emoção. Ali estavam
Vicente Mickosz, Sílvia Loretti, Carlos Nogueira e Regina Célia, entre outros.
O locutor José Jurandir Pupia também havia sido convidado, mas não chegara a
tempo. O narrador era o João Lídio Seiller Bettega, o Dide. A sonoplastia ficou
a cargo do Osny Bermudes, que era muito bom nisso. Eu havia colocado num trecho
do script a palavra "vozerio", indicando que era uma cena em que as
pessoas falavam ao mesmo tempo, ruidosamente. Chegado aquele momento, todo
mundo começou a falar desordenadamente, fazendo aquele vozear que a cena pedia.
Foi quando entrou no estúdio o retardatário Zé Pupia, e sem saber o que se
passava gritou a todo pulmão: “Força, Macacada!”. Isso, ao vivo, no meio de uma
cena dramática da radiofonização da vida de Santo Antônio.
Lembrou o Dide que eu fiquei
louco da vida.- Bira, você queria matar o Zé Pupia!, exagerou ele. O Pupia
era um cara legal, um amigão que todos nós queríamos bem... mas que, embora sem
maldade, acabou com a nossa apresentação dramática em louvor a Santo Antônio.
(Do site História do
Rádio Paranaense)
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