sábado, 5 de abril de 2014

Histórias de sonoplastia



O herói da novela

Renato Maciel de Sá Júnior

Corriam os tempos heroicos das radionovelas, audiência absoluta antes da televisão. Os capítulos iam para o ar ao vivo. Ainda não eram usadas gravações.

A massa de ouvintes da Rádio Farroupilha acompanhava o dramático final de uma comovente história de amor e violência. A trama fluía emocionante. O galã, interpretado por Walter Ferreira, finalmente encontrara o odiado vilão, refugiado no último andar de um edifício.

– Ah, canalha, chegou tua hora! Prepara-te para morrer. Neste revólver está a bala que reservei para ti todos esses anos. Toma. Miserável, morre!

Naquele exato momento, nos estúdios da Farroupilha, na Duque de Caxias com o viaduto da Borges de Medeiros, o sonoplasta manuseou rapidamente o disco onde as diversas faixas continham toda a variedade de sons e ruídos, como tropel de cavalos, trem andando, badalo de sino, etc. Ao invés do esperado tiro, porém, na transmissão, ouviu-se o desconcertante mugido de uma vaca.

Walter Ferreira consertou rápido:

– E não adianta te esconderes atrás da vaca, miserável!

(Do livro: “Anedotário da Rua da Praia 1, Editora Globo)

***

Tiro ou facada?

No programa “O Sombra” (Quem sabe o mal que se esconde nos corações humanos.O Sobra sabe... Ah! Ah! Ah!), Roberto Faissal fazia um detetive que está frente a frente com perigoso bandido. Ao ser atacado, ele saca de sua arma e dá um tiro no meliante. O sonoplasta usa uma arma com festim para fazer o som do tiro, mas o que se ouve é apenas um “tleck”, “tleck” de arma falhando, e o barulho não sai. O radioator resolve improvisar:

− Ah! Canalha, já que a arma falhou vou te matar com esta faca!

E, neste, instante, se ouve o barulho de um tiro:

Bum!

(Contado por Roberto Faissal em programa de TV)

***

Foi em 1952. Era o mês de junho. Eu fizera uma radiofonização da vida de Santo Antônio e nossa improvisada equipe de radioteatro estava a apresentá-la com capricho e emoção. Ali estavam Vicente Mickosz, Sílvia Loretti, Carlos Nogueira e Regina Célia, entre outros. O locutor José Jurandir Pupia também havia sido convidado, mas não chegara a tempo. O narrador era o João Lídio Seiller Bettega, o Dide. A sonoplastia ficou a cargo do Osny Bermudes, que era muito bom nisso. Eu havia colocado num trecho do script a palavra "vozerio", indicando que era uma cena em que as pessoas falavam ao mesmo tempo, ruidosamente. Chegado aquele momento, todo mundo começou a falar desordenadamente, fazendo aquele vozear que a cena pedia. Foi quando entrou no estúdio o retardatário Zé Pupia, e sem saber o que se passava gritou a todo pulmão: “Força, Macacada!”. Isso, ao vivo, no meio de uma cena dramática da radiofonização da vida de Santo Antônio.

Lembrou o Dide que eu fiquei louco da vida.- Bira, você queria matar o Zé Pupia!, exagerou ele. O Pupia era um cara legal, um amigão que todos nós queríamos bem... mas que, embora sem maldade, acabou com a nossa apresentação dramática em louvor a Santo Antônio.

(Do site História do Rádio Paranaense)



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