Peladeiros por Fraga
A Geometria do Treinador
Reza a lenda, que nos gloriosos
tempos do Santos de Pelé, o técnico Lula, certo dia convocou Zito, Mengálvio,
Pelé e Pagão para uma conversa reservada, e sentenciou:
- Vocês vão formar um triângulo perfeito no meio-campo, para
surpreender o Palmeiras.
Zito, capitão do time, ainda
arriscou:
- E quem será o vértice do triângulo?
- O goleiro deles, definiu o treinador.
A Inteligência e a Força
No poderoso esquadrão do Botafogo - RJ,
dos anos 60, um dos pontos de destaque do time era o meio-de-campo, formado por
Didi e Pampolini. O primeiro, clássico e elegante no trato com a bola ; o segundo, raça e
dedicação. Didi, o “Príncipe Etíope de Rancho” − segundo Nelson
Rodrigues −, gostava de proclamar: “Eu entro com a inteligência e
ele com a força ".
Certa tarde, durante uma partida em que o Botafogo vencia por 1 x 0, mas sofria
um terrível sufoco do adversário, Pampolini deu o troco: “Ô, crioulo, vê
se põe um pouco de força nessa inteligência, porque sozinho não está dando pra
segurar os 'home'.”
As Cortinas de General Severiano
Durante uma partida em que o poderoso
Botafogo carioca era, surpreendentemente, derrotado pelo Olaria, por 3 x 1, o
supersticioso dirigente botafoguense Carlito Rocha, sem encontrar explicação
plausível, deduziu que o fracasso só poderia ser obra das cortinas da sede do
clube. Como as mantinha permanentemente enroladas e presas por um nó, pediu a
seu assessor para assuntos de mandinga, Aloísio, que corresse à sede do clube,
para conferir o estado das mesmas. Como um maníaco, a bordo de um táxi
alucinado, o assessor dirigiu-se a General Severiano, retornando ao local da
partida, cinco minutos antes do término, com o placar já em 3 x 3. “As
cortinas estavam desamarradas. Foi aquele empregado novo, ele não sabia
que..." Nem terminou a explicação, interrompido pelo dirigente: “Não
importa. Agora sei que vamos ganhar”. Coincidência ou não, a um minuto do
final, o Botafogo marcou o gol da vitória por 4 x 3.
Após muita insistência foi aceito,
desde que o bichinho paga-se passagem. Sem querer gastar mais dinheiro, o
dirigente resolveu colocar Biriba no lugar do meia-esquerda Baduca, cuja
bagagem foi retirada de bordo e o cartão de embarque transferido para o bicho.
Barrado por um cachorro, Baduca encerrou a carreira naquele momento, numa das
passagens mais tristes e marcantes da História do Futebol Brasileiro.
Balde de Água Fria
O ponta-direita Natal, quando de sua
passagem pelo Cruzeiro, resolveu aprontar uma falseta para seu companheiro de
quarto, o inesquecível Tostão. Colocou um balde com água sobre a porta e
aguardou o parceiro. De repente, ruído de passos e a porta se abre. Para azar
do jogador, o alvo atingido não fora Tostão, mas sim o presidente do clube,
Felício Brandi, que todo molhado, desandou a desfiar seu imenso rosário de
palavrões ítalo-brasileiros, ao mesmo tempo em que prometia comer vivo o autor
da lambança. Naquele dia, um dos fatos mais comentados por todos na
concentração, foi o sumiço de Natal por mais de três horas, período em que não
foi visto em nenhuma das dependências do hotel, uma vez que ficara escondido no
quarto, em baixo da cama.
Bicho Por Vitória
Justificativa do grande Nilton
Santos, após ser demitido do cargo de técnico do Bonsucesso, onde ostentara um
cartel invejável de 7 jogos com 4 vitórias, 2 empates e apenas 1 derrota:
“A única explicação para a demissão, é o fato de que exigi dos dirigentes,
o pagamento de 'bichos' por vitória para os jogadores. Só não me avisaram,
quando fui contratado, que não queriam que o time vencesse”.
Bola Atrasada
O folclórico goleiro Manga costumava
definir seus adversários pela potência do chute. Certa vez declarou a um
repórter do Rio de Janeiro: “Pepe e Quarentinha são terríveis. Verdadeiros
canhões. Bom seria se todos fossem iguais a Zagallo, que não chuta em gol,
apenas atrasa a bola para o goleiro”.
Brandão, O Sucinto
Certa ocasião, o velho mestre Oswaldo
Brandão, pernas cruzadas, fumava calmamente seu tradicional cigarrinho,
aguardando o reinício da partida, quando foi surpreendido por um repórter
incauto:
- Seu Brandão, como o senhor viu o jogo no primeiro tempo?
- De óculos - respondeu secamente o treinador.
Insiste o repórter:
- E como o time vai jogar no segundo tempo?
- De camisa, calção, chuteira, meião...
Indignado, o repórter indaga:
- Por que o senhor responde as coisas sempre do mesmo modo?
E o mestre sentencia:
- Porque você faz sempre as mesmas perguntas − colocando um
ponto final no diálogo.
Clima de
Guerra
Durante a partida entre Brasil e
Itália, na Copa de 1938, famosa pela polêmica de um pênalti cometido por
Domingos da Guia em Piola, supostamente inventado pelo árbitro da partida, o
locutor Gagliano Neto criticou tão exaltadamente o juiz durante a transmissão,
que quase antecipa a 2ª Guerra Mundial em um ano. Torcedores cariocas, feridos
em seu patriotismo, iniciaram um ataque a estabelecimentos comerciais de
propriedade da colônia italiana na cidade, particularmente cantinas e afins.
Num raro momento de lucidez, a polícia do Rio de Janeiro encontrou uma solução
magistral para a contenção da ira dos populares: mandou as rádios espalharem
que a partida havia sido anulada, em função da roubalheira. Imediatamente,
ainda munidos de paus e pedras, os irados torcedores passaram da guerra à
discussão: quem deveria ser escalado pelo técnico Ademar Pimenta na nova
partida? Perácio ou Tim?
Essa entrou para o livro de cabeceira
de todo profissional do Futebol. Pregava o incomparável Gentil Cardoso aos seus
jogadores, cada vez que o jogo era contra time pequeno e encontrava-se
complicado: “Daqui pra frente, quero todo mundo indo pra cima e chutando a
bola pra dentro da área de qualquer ângulo. Sabe como é: contra time pequeno,
bola na bunda é pênalti.”
Erro Geográfico
Após a desclassificação brasileira na
Copa da Suíça em 1954, na derrota para os húngaros, o árbitro Maria Vianna
declarava, possesso, em todas as rádios do Rio de Janeiro, que o juiz da
partida era comunista e havia nos roubado. Imediatamente, populares
dirigiram-se exaltados à embaixada do país sede da competição, numa espécie de
contra-ofensiva tupiniquim. Por um lamentável deslize geográfico, apedrejaram a
embaixada da Suécia, quebrando todas as vidraças e causando um ligeiro
desconforto nas relações entre as duas nações, forçando inclusive, o Itamaraty
a pagar todas as despesas da reconstrução das vidraças. Detalhe insignificante:
o árbitro da partida era o inglês Arthur Ellis.
Expulsão
Precoce
Que o árbitro Armando Marques nunca
foi de dar satisfações aos jogadores, fosse quem fosse, é fato sabido e
notório. Em uma partida do Santos, o capitão Rildo partiu para a provocação. Na
hora do sorteio para a escolha do campo, resolveu conferir a idoneidade do
árbitro, exigindo que este lhe mostrasse o resultado. Armando Marques, furioso,
obviamente não exibiu a moeda, e ainda tascou um cartão amarelo em Rildo, num
raro caso de punição antes do início da partida.
Gentil e o Entrosamento
O folclórico técnico Gentil Cardoso,
que entre outras coisas, gostava de recitar discursos de Filosofia para seus
jogadores, fora contratado pelo Sport Recife, com pompas e circunstâncias. O
novo presidente do clube, não poupara esforços − nem dinheiro − para fazer do
Sport, o campeão da temporada. Para tanto, autorizou Gentil a pedir a
contratação de quem bem entendesse. Após a vinda de seis reforços, a peso de
ouro, a torcida apenas aguardava o começo do campeonato, para iniciar a
contagem regressiva rumo ao título. Dada a largada na competição, o que se viu
foi um time bisonho, acumulando um vexame após o outro. Após algumas rodadas,
já convivendo com a ira
popular, o presidente chama o treinador e questiona: “O que há Gentil:
Pediste os jogadores, e eles aí estão. Qual o problema?”. “O time é
bom, presidente”, respondeu o treinador, “o que falta é o entrosamento".
E ouviu, de um angustiado dirigente: “Então contrata, contrata logo. Pelo
amor de Deus”.
Gentil e o Grandalhão
Certo dia, enquanto treinava um grupo
de juvenis em experiência, o treinador Gentil Cardoso encontrava-se bastante
irritado com um rapaz bastante alto e ruim de bola. A cada bola recebida, o
rapaz engrossava a lista de bicos e caneladas. Não aguentando mais,
preparava-se para substituí-lo, quando foi abordado por um senhor sorridente e
bastante orgulhoso. Apontou o grandalhão e disse: “Aquele é o meu garoto.
Sempre desejei que crescesse e se tornasse um craque.” Sem titubear, o
sarcástico treinador emendou: “É, pelo menos ele cresceu”.
Imprestável
Célebre diálogo entre presidentes de
dois grandes clubes brasileiros: Francisco Horta, do Fluminense, e Vicente
Matheus, do Corinthians. Após a proposta do dirigente do time carioca pela
contratação de Rivelino, Matheus rebate: “Não posso vender, Rivelino é um
patrimônio do clube”. Diante da insistência, nova negativa: “Não
vendo. Rivelino é um jogador inegociável”. E Horta: “Então,
empresta”. “Nada feito, Rivelino é imprestável”.
Lista de Proibições
Durante a partida entre Brasil e
Inglaterra, na Copa de 1970, o comentarista e ex-árbitro Mário Vianna, possesso,
praguejou contra o juiz Abraham Klein, supostamente aliado dos ingleses:
“Esse senhor, além de alemão é judeu”. Foi um Deus nos acuda, ainda
mais pelo fato de que o patrocinador da transmissão era alemão, e o dono da
agência de publicidade da emissora, judeu. Valdir Amaral, locutor-chefe da
casa, chamou o comentarista para uma rígida reunião, e sem dar direito a
qualquer argumentação, foi elaborando uma enorme lista de termos que este não
poderia usar. Desconsolado, à medida que a relação crescia, um tímido Mário
Vianna perguntou: “Mas fariseu pode, não é. Por favor”, quase
implorando. “Fariseu é a minha marca registrada”.
Mané de Sapato Novo
Em uma das várias excursões
realizadas pelo esquadrão de ouro do Botafogo − RJ à Europa, nos anos 50, os
jogadores fizeram tantas compras, que a única solução encontrada para o
transporte, foi retornar ao Rio de Janeiro de navio. Um belo dia, ainda a
bordo, Garrincha surge vestido impecavelmente, numa elegância tipicamente à
italiana. Ponto alto do figurino do Mané, um par de sapatos tipo mocassim, de
camurça cor-de-mel e linhas ultramodernas, causava inveja em toda a delegação,
que não tardou a interrogar onde o jogador os havia comprado. Sem titubear, um
envaidecido Garrincha responde: “Foi naquela cidade onde seu Zezé levou um
tombo”. Tratava-se simplesmente de Roma, a “Cidade Eterna”, onde
realmente o técnico Zezé Moreira havia tido uma queda cinematográfica, após
escorregar na escadaria do hotel.
Mané na Zona
Numa das famosas excursões do
Botafogo carioca à Europa, nos anos 60, a delegação mal chegara ao hotel, em Madri,
e Garrincha, como de costume já havia sumido. Conhecedor dos hábitos boêmios do
jogador, o técnico Zezé Moreira, furioso, saiu à sua procura. Tomou um táxi e
pediu ao motorista que o conduzisse à área de meretrício da cidade.
Percorrendo, com o olhar atento, todas as ruas da região em questão, não tardou
a encontrar o Mané. Abriu a porta do carro e, mal ia descendo, ouviu um berro
do jogador, que também o havia visto: “Aí, hein seu Zezé. O senhor também
na zona?!”. Sem saber onde enfiar a cara, o treinador sumiu no mesmo táxi,
sem abrir a boca.
Manga Com Cachaça
Durante o período em que treinava a
Seleção Carioca, o folclórico Carlito Rocha descobriu que seus atletas eram
chagados à cachaça, bebida em doses cavalares, num boteco próximo ao local de
treinamento. Como estratégia psicológica, apareceu no treino do dia seguinte,
com um enorme balaio de mangas, rosadas e carnudas, dizendo aos jogadores que
comessem à vontade, pois faziam bem à saúde e aumentavam a resistência física.
Após a comilança, fez apenas uma recomendação, enquanto derramava cachaça sobre
um pedaço da fruta, que ia escurecendo: “A fruta faz bem, mas não esqueçam
que, se misturada com cachaça, faz um mal terrível. Vejam só com que cor esta
ficou”. No dia seguinte, ninguém tocou nas frutas.
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