sábado, 12 de abril de 2014

Joseph Rudyard Kipling


(Bombaim, 30 de dezembro de 1865 – Londres, 18 de janeiro de 1936)


If

If you can keep your head when all about you

Are losing theirs and blaming it on you,
If you can trust yourself when all men doubt you
But make allowance for their doubting too,
If you can wait and not be tired by waiting,
Or being lied about, don't deal in lies,
Or being hated, don't give way to hating,
And yet don't look too good, nor talk too wise;

If you can dream--and not make dreams your master,
If you can think--and not make thoughts your aim;
If you can meet with Triumph and Disaster
And treat those two impostors just the same;
If you can bear to hear the truth you've spoken
Twisted by knaves to make a trap for fools,
Or watch the things you gave your life to, broken,
And stoop and build 'em up with worn-out tools;

If you can make one heap of all your winnings
And risk it all on one turn of pitch-and-toss,
And lose, and start again at your beginnings
And never breath a word about your loss;
If you can force your heart and nerve and sinew
To serve your turn long after they are gone,
And so hold on when there is nothing in you
Except the Will which says to them: “Hold on!”

If you can talk with crowds and keep your virtue,
Or walk with kings --nor lose the common touch,
If neither foes nor loving friends can hurt you;
If all men count with you, but none too much,
If you can fill the unforgiving minute
With sixty seconds' worth of distance run,
Yours is the Earth and everything that's in it,
And – which is more – you'll be a Man, my son!


Traduções

Se

Se és capaz de manter a tua calma quando
Todo o mundo ao teu redor já a perdeu e te culpa;
De crer em ti quando estão todos duvidando,
E para esses no entanto achar uma desculpa;


Se és capaz de esperar sem te desesperares,
Ou, enganado, não mentir ao mentiroso,
Ou, sendo odiado, sempre ao ódio te esquivares,
E não parecer bom demais, nem pretensioso;


Se és capaz de pensar – sem que a isso só te atires;

De sonhar – sem fazer dos sonhos teus senhores
Se encontrando a desgraça e o triunfo conseguires
Tratar da mesma forma a esses dois impostores;


Se és capaz de sofrer a dor de ver mudadas
Em armadilhas as verdades que disseste,
E as coisas, por que deste a vida, estraçalhadas,
E refazê-las com o bem pouco que te reste;


Se és capaz de arriscar numa única parada

Tudo quanto ganhaste em toda a tua vida,
E perder e, ao perder, sem nunca dizer nada,
Resignado, tornar ao ponto de partida;


De forçar coração, nervos, músculos, tudo
A dar seja o que for que neles ainda existe,
E a persistir assim quando, exaustos, contudo
Resta a vontade em ti que ainda ordena: “Persiste!”;


Se és capaz de, entre a plebe, não te corromperes
E, entre reis, não perder a naturalidade, 
E de amigos, quer bons, quer maus, te defenderes,
Se a todos podes ser de alguma utilidade,


E se és capaz de dar, segundo por segundo, 
Ao mínimo fatal todo o valor e brilho,
Tua é a terra com tudo o que existe no mundo
E o que mais – tu serás um homem, ó meu filho!

Tradução de Guilherme de Almeida


Se

Se podes conservar a fé, quando a tua volta
– atribuindo-te a culpa – os outros a perderam;
se, confiando em ti mesmo, aceitas sem revolta
que duvidem de ti os que não te entenderam;

se podes esperar, sem que te canse a espera;
ouvir todos mentir, sem mentir como os mais;
olhar o ódio, sem ter maus ímpetos de fera;
ser sábio, sem orgulho; e bom, mas não demais;

se pensas, sem tornar-te um frio pensador;
se sonhas, e não és mero escravo de ideais;
se na derrota má, no êxito embriagador,
medes por igual metro impostores iguais;

se podes suportar que uma verdade obtida
a deturpem os maus para enganar os loucos;
se ao ver tombado aquilo a que entregaste a vida
com teus gastos alviões reabres os seus cavoucos;

se sabes, amontoando os lucros que alcançaste,
arriscá-los de um golpe, olhando-o sem tremer;
e perder, e voltar ao caminho que andaste,
sem que te ouça uma queixa e que te viu perder;

se sabes obrigar o coração e os nervos
a vibrar quando são fagulhas que se esvai,
e a caminhar assim, tornando-os em teus servos
porque a vontade o impõe e lhes diz – “Caminhas!”

Se te ouvem multidões, sem perderes virtude;
se privas com os reis sem ganhares vaidade;
se, entendendo a ilusão, ninguém te desilude;
se, o amigo ou inimigo ouves só a verdade;

se em cada instante dás mais uma passo fecundo
numa estrada que o sol inundar de seu brilho,
– venceste. Será teu quanto existe no mundo.
E, o que mais, – és um Homem, meu filho.

(Versão livre de Thomaz Ribeiro Colaço – Almanaque do Correio da Manhã de 1950)




 Se

Se você puder manter a calma, quando
todos à sua volta já a perderam, culpando-o por isso;
Se você puder confiar em si, quando todos duvidam de você,
mas puder também levar em consideração as dúvidas deles;
Se você souber esperar e não se cansar de esperar,
ou ao ser enganado, não recorrer à infâmia,
ou ao ser odiado, não der espaço para a raiva,
e não queira, nunca, nem parecer muito bom, nem muito sábio;

Se você puder sonhar – e não fazer dos sonhos o seu senhor;
Se você puder pensar – e não fazer de seus pensamentos a sua meta;
Se você puder confrontar-se com o triunfo e com a derrota
e tratar estes dois impostores da mesma maneira;
Se você puder ouvir o que você falou ser distorcido
em armadilha para apanhar os ingênuos,
ou ver destruídas as coisas pelas quais você deu a sua vida,
juntar os pedaços, e reconstruí-las com base nos mesmos princípios;

Se você puder juntar todas as suas vitórias
e colocá-las todas em risco num tudo ou nada,
e perder, e iniciar tudo outra vez, desde o começo
e nunca deixar escapar uma só palavra sobre suas perdas;
Se você puder forçar seu coração, seus nervos e seus músculos,
para recomeçar tudo depois deles se terem esgotado,
e ainda aguentar mesmo quando não há mais nada em você
exceto o desejo para dizer para eles: “Aguentem!”

Se você puder conviver com o povo sem perder suas virtudes,
ou conviver com os reis sem perder sua simplicidade;
Se nem os desafetos e nem seus melhores amigos puderem machucá-lo,
Se muitos contam com você, mas nenhum depende só de você;
Se você puder preencher o valor do inclemente minuto perdido
com os sessenta segundos ganhos numa longa corrida,
sua será a Terra, junto com tudo que nela existe,
e – mais importante – você será um Homem, meu filho!


(Releitura em Português de Dascomb Barddal)

(Médico do Estado do Paraná)


Curiosidade


           Em 1909, o indo-britânico Rudyard Kipling (1865-1936) já tinha no currículo o Prêmio Nobel de literatura, conquistado dois anos antes, mas nem por isso considerava a sua obra concluída. Pai de uma menina e de um menino, e também de uma garota morta prematuramente dez anos antes, de pneumonia, ele tinha uma prole para criar. E foi para o seu caçula, John, então com apenas 12 anos, que Kipling escreveu naquele ano um poema que entraria para a galeria de seus textos mais célebres, Se, uma reunião de conselhos enfileirados com ternura e sabedoria para o menino, também ele destinado a morrer de forma trágica e prematura. John seria abatido aos 18 anos no front da Primeira Guerra Mundial, sem talvez chegar a ser o homem com que o pai sonhou ao assinar o poema.

Nenhum comentário:

Postar um comentário