Lorenzo: A lua está brilhante. Em uma noite assim como esta,
quando o doce vento beijava gentilmente as árvores e elas não faziam nenhum
ruído – em uma noite como esta, Tróilo, parece-me, escalou as muralhas de Troia
e suspirou do fundo da alma diante das tendas gregas, onde dormia Créssida
naquela noite.
Jéssica: Em uma noite como esta, Tisbe caminhava temerosa pelo
orvalho e viu a sombra do leão antes de ver o próprio, e correu de lá
assustada.
Lorenzo: Em uma noite como esta, Dido postou-se com um ramo de
salgueiro nas mãos, de pé na praia deserta, e acenou para que seu amor voltasse
a Cartago.
Jéssica: Em uma noite como esta, Medeia juntou as ervas
encantadas que rejuvenesceram o velho Éson.
Lorenzo: Em uma noite como esta, Jéssica escapou da casa do
rico judeu e, com um pródigo amante, fugiu de Veneza até Belmonte.
Jéssica: Em uma noite como esta, o jovem Lorenzo jurou que a
amava, roubando-lhe a alma com muitos votos de fidelidade, e nem um deles
sincero.
Lorenzo: Em uma noite como esta, a bela Jéssica, como uma
pequena megera, caluniou seu amado, e ele a perdoou.
*****
(“O Mercador de Veneza”, de William Shakespeare,
1564-1616)
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