O brinquedo essencial do homem é a bola.
Quem ganha uma bola descobre dois mundos,
o de dentro e o de fora.”
(Paulo Mendes Campos em O Gol é necessário –
Crônicas Esportivas)
Magia
Comecei
a entender a magia do Natal, lá pelos meus nove anos. Não que eu não soubesse
da fantasia, da atmosfera com que se reveste tudo em torno do Natal, é que, com
essa idade, eu entendi que natal, para uma criança, é o presente que se ganha
ao acordar; é o que se espera, com ansiedade, encontrar embaixo da cama ou na árvore
enfeitada no dia de Natal.
Em
virtude de eu ser filho de um modesto funcionário público, desde cedo eu
entendi as dificuldades da compra de um presente. Geralmente, nos natais, meu
pai me presenteava com coisas práticas: um sapato novo, uma calça ou uma
camisa. Mas, naquele Natal, aconteceu-me algo diferente. Fui dormir sem nenhuma
perspectiva. Sabia que no outro dia seria dia de natal. A mesa estaria mais
farta, ganharia, talvez, uma roupa nova, ou um carrinho qualquer. No outro dia,
algo fantástico aconteceu. Lá estava ela com o meu nome: uma linda bola de
couro número 5. Não sei quem a comprou, mas era para mim, e só quem já foi
moleque de bairro sabe o que representa uma bola número 5. Ela representa, para
um garoto, o maior sonho. Significa ter o mundo a seus pés. Significa ser o
dono do time. Jogar em qualquer posição. Ser escalado, começar e terminar uma
partida, mesmo sendo um perna-de-pau.
Dormi
abraçado àquela bola. Não deixava que caísse no chão. Passava sebo nas costuras
para que ela não se estragasse. Ela era a minha bola. O meu melhor presente de
Natal.
Hoje,
adulto, já tive excelentes natais. Aburguesei-me e posso comprar toda a
felicidade que o dinheiro pode proporcionar, mas nada é igual. Recebo
presentes, dou bons presentes, mas não há magia. Nada, nem de longe, tem aquela
alegria e aquela felicidade que uma bola de couro número cinco me proporcionou
naquele distante Natal dos meus tenros nove anos.
(Texto de Nilo da Silva
Moraes)
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