Manuel Bastos Tigre
(Recife, PE, 1882 - Rio de Janeiro, RJ, 1957)
Com Emílio de Meneses tem por
afinidades o humor (sua poesia satírica leva o pseudônimo de D. Xiquote) e o
talento publicitário. Sua filha Helena Ferraz de Abreu (que também foi
satirista e usava o pseudônimo masculino de Álvaro Armando) assim retratou o
pai:
(Álvaro Armando)
Com relógio no prego e cerveja no
lombo,
Vivendo na boêmia, explosivo por
vezes,
Ao redor de Bilac e Emílio de
Meneses,
Inflamava a Pascoal, punha fogo à
Colombo.
Hoje, que o arranha-céu na poesia
dá o tombo,
Sem luz os bigodões, nem vinhos
portugueses,
É um tipo bonachão, tem hábitos
burgueses,
Com relógio no pulso e trabalho
no lombo.
Mas aos versos fiel, desse mal
não se cura,
A inspiração mordaz, cheia de
humor, vadia,
Guarda sob a expressão
burocrática e sonsa.
E indago: os seus irmãos pela
literatura
Que lhe negam a entrada à
"sábia" Academia,
São amigos do Tigre ou amigos
da... onça?
Sonetos satíricos de Bastos Tigre
Voz Interior
Quem sou eu? de onde venho e
onde, acaso me leva
O Destino fatal que os meus
passos conduz?
Ora sigo, a tatear, mergulhado na
treva,
Ou tateio, indeciso, ofuscado de
luz.
Grão, no campo da Vida, onde a
morte se ceva?
Semente que apodrece e não se
reproduz?
De onde vim? Da monera? ou vim do
beijo de Eva?
E aonde vou, gemendo, a sangrar
os pés nus?
Nessa esfinge da Vida a verdade
se esconde;
O espírito concentro e consulto a
razão,
E uma voz interior, sincera, me
responde:
− Quem és tu? Operário honesto da
nação.
De onde é que vens? De casa. Onde
é que estás? No bonde.
Para onde vais? Não vês? Para a
repartição.
Esta República
É certo que a República vai torta;
Ninguém nega a duríssima verdade.
Da pátria o seio a corrupção
invade
E a lei, de há muito tempo, é
letra morta.
A quem sinta altivez, força e
vontade
Ficou trancada do Poder a porta:
Mas felizmente a vida nos conforta
De esperança, uma dúbia claridade.
Porque (ninguém se iluda),
"isto" que assim
A pobre Pátria fere, ultraja e
explora,
Jamais o sonho foi de Benjamin.
Os motivos do mal não são
mistério:
− É que a gentinha que governa
agora
É o rebotalho que sobrou do
Império.
Amor de Pronto
Suplicas que eu te escreva e que
te diga
Se te não quero mais com o mesmo
ardor.
Pedes "três linhas... uma
frase amiga,
Um rápido bilhete... o quer que
for."
Nada perdeu da intensidade antiga
Meu sempre novo e apaixonado amor;
O ofício de te amar não me fatiga
E além do mais eu sou conservador.
Dizes estar de tanta espera farta;
Que os homens, às amantes sempre
infiéis,
Só merecem (que horror!) que um
raio os parta.
Não! Meu silêncio tem razões bem
cruéis:
Ando "por baixo" e
custa cada carta
Tinta, papel e um selo de cem
réis.
Reforma do Ensino
Mal o Congresso arranja uma
reforma
Da Instrução malsinada e
miseranda,
Outra já se prepara; e desta forma
Ela de Herodes a Pilatos anda.
Da mania reinante segue a norma
(Pois que da glória os píncaros
demanda)
E de um grande projeto o esboço
forma
O fecundo doutor Passos Miranda.
A nova lei ordena que os pequenos
Trilhem com aplicação e com
cuidado
Seis anos de científicos terrenos.
Um parágrafo seja acrescentado:
− O saber ler é obrigatório; a
menos
Que o rapaz se destine a
deputado...
Definição
Amor é mal e é mal que não tem
cura,
Mas, sendo mal, sofrê-lo nos faz bem.
Chora o amante, se o amor lhe dá ventura,
E ri da dor, se dele, a dor lhe vem.
Mas, sendo mal, sofrê-lo nos faz bem.
Chora o amante, se o amor lhe dá ventura,
E ri da dor, se dele, a dor lhe vem.
O amor é vida e leva à sepultura;
É doce filtro, o amor, e fel contém;
É luz, mas entretanto, em noite escura,
Tonto, a tatear, o alguém que ama outro alguém.
É doce filtro, o amor, e fel contém;
É luz, mas entretanto, em noite escura,
Tonto, a tatear, o alguém que ama outro alguém.
Apesar de cego, o amor vê o
invisível;
Por firme que se mostre, é sempre vário,
É Deus, e faz de um santo, um pecador.
Por firme que se mostre, é sempre vário,
É Deus, e faz de um santo, um pecador.
Inerme e fraco, é força irresistível;
Sendo, pois, a si mesmo tão contrário,
Quem é que pode definir o amor?...
Sendo, pois, a si mesmo tão contrário,
Quem é que pode definir o amor?...
Manuel Bastos Tigre
Manuel Bastos Tigre, jornalista,
poeta, humorista, revistógrafo e compositor, nasceu em 12/3/1882 em Recife, PE
e faleceu no dia 1/8/1957 no Rio de Janeiro, RJ.
Mudou-se para o Rio de Janeiro ainda estudante. Ali
trabalhou como jornalista, escrevendo sob o pseudônimo de D. Quixote.
Com 24 anos estreou como
revistógrafo com a peça Maxixe, sua e de Batista Coelho, que também usava um
pseudônimo: João Foca. Naquele mesmo ano de 1906, conheceu também seu primeiro
sucesso musical, Vem cá, mulata, em parceria com Arquimedes de Oliveira, incluída
em sua revista Maxixe, interpretada por Maria Lino.
A partir de 1918, em todos os bondes lia-se o reclame
escrito por Bastos Tigre:
Veja, ilustre
passageiro,
O belo tipo faceiro
Que o senhor tem ao
seu lado.
No entanto, acredite,
Quase morreu de
bronquite:
Salvou-o o Rhum
Creosotado.
Foi autor do primeiro disco
publicitário do Brasil, Chopp da Brahma, em parceria com Ary Barroso e gravado
em 1935 pelo iniciante Orlando Silva.
Até a década de 1920 escreveu
várias peças de sucesso, entre elas Grão-de-bico (1915), De pernas pro ar, com
Cândido Castro (1916), Viva o amor, com Eduardo Vitorino (1924) e Ziguezague
(1926).
Foi fundador e diretor da revista
D. Quixote. Foi um dos fundadores, presidente e tesoureiro da SBAT (Sociedade
Brasileira de Autores Teatrais, fundada em 1917) e ainda teve a função de
bibliotecário na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro.
Principais sucessos musicais:
A despedida, Eduardo Souto e Bastos Tigre (1932)
A saudade, Eduardo Souto e Bastos Tigre (1932)
Casa de paulista, versão de Bastos Tigre da canção Casa de
caboclo de Hekel Tavares, Chiquinha Gonzaga e Luiz Peixoto (1929)
Cassino Maxixe (A maçã proibida), Sinhô e Bastos Tigre
(1927)
Chopp da Brahma, Ary Barroso e Bastos Tigre (1935)
Vem cá, mulata, Bastos Tigre e Arquimedes de Oliveira (1906)
Fonte: www.geocities.com
Manuel Bastos Tigre
Foi homem de múltiplos talentos,
pois foi jornalista, poeta, compositor, teatrólogo, humorista, publicitário,
além de engenheiro e bibliotecário. E em todas as áreas obteve sucesso,
especialmente como publicitário. É dele, por exemplo, o slogan da Bayer que
correu o mundo, garantindo a qualidade dos produtos daquela empresa:
“Se é Bayer é bom”. Foi ele ainda
quem fez a letra para Ary Barroso musicar e Orlando Silva cantar, em 1934, o
“Chopp em Garrafa”, inspirado no produto que a Brahma passou a engarrafar
naquele ano, e veio a constituir-se no primeiro jingle publicitário, entre
nós.” (As vidas…, p. 16).
Prestou concurso para
Bibliotecário do Museu Nacional (1915) com tese sobre a Classificação Decimal.
Mais tarde, transferiu-se para a Biblioteca Central da Universidade do Brasil,
onde serviu por mais de 20 anos.
Exerceu a profissão de
bibliotecário por 40 anos, é considerado o primeiro bibliotecário por concurso,
no Brasil.
minha tia-avó e meu bisavô. orgulho.
ResponderExcluirBastos Tigre, além de ser um notável escritor de textos humorísticos, foi, também, uma grande poeta.
ExcluirVocê deve orgulhar-se muito de seus antepassados.
Nilo da Silva Moraes
Ouvi muito sobre Bastos Tigre através os comentários do meu pai, que era médico, e poeta nas horas vagas. Ficou-me na lembrança o comentário de que esse nobilissimo poeta,surpreendia a todos com finais surpreendentes, fugindo inclusive do assunto ou do tema. Gostaria muito de achar algo assim sobre ele. Por exemplo, ele vinha narrando uma bela viagem, e no final saiu com..." Considere o preço exorbitante dá passagem".
ResponderExcluirDesculpem-me alguns erros de grafia.
ResponderExcluirO texto está muito bom, dona Janine, prometo que vou pesquisar a história na qual a senhora se refere.
ExcluirUm abraço de Nilo da Silva Moraes, compilador do Almanaque Cultural Brasileiro.
Ah, Nilo, obrigada pelo seu comentário. Se vc descobrir sobre esse peculiaridade do Bastos Tigre, vou ficar muito feliz! Abraços e
ExcluirNilo da Silva Moraes, ainda muito curiosa sobre Bastos Tigre. Quando puder, gostaria de ouvi-lo.
ResponderExcluirJanine Monte-Mór Eleuterio