quarta-feira, 16 de abril de 2014

Metáfora ambiental



Sobre vaca, bernes e política.

Era uma vez uma vaca feliz, saudável e bonita. Mas nem tudo é perfeito. A vaca tinha hóspedes. Alguns bernes se hospedaram nela e alimentavam-se da sua carne. Mas os bernes eram poucos e pequenos... A vaca e os bernes viviam em paz

Aconteceu, entretanto, que os bernes começaram a se multiplicar. Os bernes aumentavam, mas a vaca não aumentava, confirmando a lei de Malthus, que disse que “os alimentos crescem em razão aritmética, enquanto as bocas crescem em razão geométrica.” O couro da vaca se encheu de calombos que indicavam a presença dos bernes. Mesmo assim, a vaca continuava saudável. Ela tinha muita carne de sobra.

Foi então, que uma coisa inesperada aconteceu: alguns bernes sofreram uma mutação genética e passaram a crescer em tamanho. Foram crescendo, ficando cada vez maiores, e com uma voracidade também cada vez maior. Os vermes magrelas ficaram com inveja dos vermes grandes e trataram de tomar providências para que eles crescessem também. O corpo da pobre vaca passou a ser uma orgia de crescimento. Os bernes só falavam numa coisa: “É preciso crescer! ” Mas a vaca não crescia. Ficava do mesmo tamanho. De tanto ser comida pelos bernes, a vaca ficou doente. Emagreceu. Mas os bernes nada sabiam sobre a vaca em que moravam. Para perceberem, seria preciso que eles estivessem do lado de fora. Os bernes estavam dentro da vaca. Assim, não percebiam que sua voracidade estava matando-a. A vaca morreu!... E com ela, morreram os bernes!...

Fizeram autópsia da vaca. O relatório do legista observou que os bernes mortos eram excepcionalmente grandes, bem nutridos, muitos deles chegando à obesidade. “James Lovelock é um cientista que sugeriu que a nossa Terra é um organismo vivo, como a vaca da parábola. Sendo uma coisa viva, ela pode ter saúde ou ficar doente.”

Sua conclusão é que nós, os bernes, já estragamos a Terra, “a nossa vaca,” além de qualquer possibilidade de cura. A Terra está doente. O crescimento das nações está provocando profundas mudanças climáticas irreversíveis: a atmosfera está se aquecendo, as geleiras estão derretendo, a poluição do meio ambiente aumenta, acontecem catástrofes naturais numa intensidade desconhecida. Esses são os sintomas dos estertores da nossa Terra, destruída pela voracidade dos bernes. “E o pior está por acontecer, ele diz. Ecossistemas inteiros serão extintos, e os sobreviventes terão de se adaptar a um clima infernal...” 

(Folha de S.Paulo, caderno Mais, 22/ 01/06, pág. 9).

Observando as discussões políticas, não vejo nenhum político que fale sobre a saúde da vaca. Ao contrário, os políticos, tanto de direita quanto de esquerda, só fazem prometer aos bernes um engordamento cada vez maior. Por uma boa razão: os eleitores são os bernes e não a vaca. O candidato que falar sobre a saúde da vaca e o emagrecimento dos bernes, com toda certeza, perderá a eleição. Quando o que está em jogo é a saúde da vaca, não se pode confiar nos bernes... Esta nossa Mãe  Terra é um organismo vivo, como a vaca da parábola... e nós a estamos MATANDO!


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