Sobre vaca, bernes e
política.
Era uma vez uma vaca feliz, saudável e bonita.
Mas nem tudo é perfeito. A vaca tinha hóspedes. Alguns bernes se hospedaram
nela e alimentavam-se da sua carne. Mas os bernes eram poucos e pequenos... A
vaca e os bernes viviam em paz
Aconteceu, entretanto,
que os bernes começaram a se multiplicar. Os bernes aumentavam, mas a vaca não
aumentava, confirmando a lei de Malthus, que disse que “os alimentos crescem em
razão aritmética, enquanto as bocas crescem em razão geométrica.” O couro da
vaca se encheu de calombos que indicavam a presença dos bernes. Mesmo assim, a
vaca continuava saudável. Ela tinha muita carne de sobra.
Foi então, que uma coisa
inesperada aconteceu: alguns bernes sofreram uma mutação genética e passaram a
crescer em tamanho.
Foram crescendo, ficando cada vez maiores, e com uma
voracidade também cada vez maior. Os vermes magrelas ficaram com inveja dos
vermes grandes e trataram de tomar providências para que eles crescessem
também. O corpo da pobre vaca passou a ser uma orgia de crescimento. Os bernes
só falavam numa coisa: “É preciso crescer! ” Mas a vaca não crescia.
Ficava do mesmo tamanho. De tanto ser comida pelos bernes, a vaca ficou doente.
Emagreceu. Mas os bernes nada sabiam sobre a vaca em que moravam. Para
perceberem, seria preciso que eles estivessem do lado de fora. Os bernes
estavam dentro da vaca. Assim, não percebiam que sua voracidade estava
matando-a. A vaca morreu!... E com ela, morreram os bernes!...
Fizeram autópsia da vaca.
O relatório do legista observou que os bernes mortos eram excepcionalmente
grandes, bem nutridos, muitos deles chegando à obesidade. “James Lovelock é um
cientista que sugeriu que a nossa Terra é um organismo vivo, como a vaca da
parábola. Sendo uma coisa viva, ela pode ter saúde ou ficar doente.”
Sua conclusão é que nós,
os bernes, já estragamos a Terra, “a nossa vaca,” além de qualquer
possibilidade de cura. A Terra está doente. O crescimento das nações está
provocando profundas mudanças climáticas irreversíveis: a atmosfera está se
aquecendo, as geleiras estão derretendo, a poluição do meio ambiente aumenta,
acontecem catástrofes naturais numa intensidade desconhecida. Esses são os
sintomas dos estertores da nossa Terra, destruída pela voracidade dos bernes.
“E o pior está por acontecer, ele diz. Ecossistemas inteiros serão extintos, e
os sobreviventes terão de se adaptar a um clima infernal...”
(Folha de S.Paulo,
caderno Mais, 22/ 01/06, pág. 9).
Observando as discussões
políticas, não vejo nenhum político que fale sobre a saúde da vaca. Ao
contrário, os políticos, tanto de direita quanto de esquerda, só fazem prometer
aos bernes um engordamento cada vez maior. Por uma boa razão: os eleitores são
os bernes e não a vaca. O candidato que falar sobre a saúde da vaca e o
emagrecimento dos bernes, com toda certeza, perderá a eleição. Quando o que
está em jogo é a saúde da vaca, não se pode confiar nos bernes... Esta nossa
Mãe ‒ Terra é um organismo vivo, como a vaca da parábola... e nós a estamos
MATANDO!
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