terça-feira, 8 de abril de 2014

Num crescendo



Getúlio Vargas por Fraga

O lançamento da candidatura do Dr. Getúlio a Presidente, em 50, deu-se numa enorme churrascada, na Granja do Dr. Jango, à qual compareceram delegações de todo o Brasil. A festa, como não podia deixar de ser, obedeceu a um cronograma espontâneo, desses que começavam com os discursos dos graúdos, os "pronunciamentos" dos intrometidos e a cantoria dos trovadores, regados à universal fartura. Do meio para o fim da tarde, quando só resistiam os mamaus recalcitrantes, ficavam os clássicos grupinhos. Assim foi. Num desses grupinhos, o F. e o R. S. tentavam fazer bonito, tendo por mote a quadrinha com a qual um dos trovadores mais afamados havia descrito a despedida das tropas na Revolução de 30, quando saíram da gare dos Navegantes:

"Chora o rico, chora o pobre,
chora o mais necessitado,
chora o Dr. Getúlio Vargas,
presidente deste Estado."

Com aquele choro queimando no peito, o F. atacou:

"De brinquedo chora o mico,
por nada chora o louco,
por muito chora o rico,
o pobre chora por pouco."

O R. S. saiu no rastro:

"De alegria o coió,
de medo quem se encadeia,
mas a véia tua vó
chora de véia ou de feia?"


E o F., perdendo as estribeiras:

"Por ela chora a urutu
e por ti o urubu,
tua mãe chora por pau
e tua irmã dando o c...".

§ § § § §

Do livro "Populário São-borjense"
de Apparicio Silva Rillo e Fernando M. O'Donnell.
Martins Livreiro Editor, 1991.




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