Malba Tahan
O problema das pérolas
Sinto-me, realmente, encantado com o que acabo de ouvir.
O ilustre matemático persa acaba
de demonstrar, várias vezes, a pujança de seu incomparável talento. Gostaria,
também, colaborando neste brilhante torneio, de oferecer ao calculista Beremiz
Samir, dois interessantes problemas que aprendi, quando ainda muito moço, de um
sacerdote budista que cultivava a Ciência dos Números.
Acudiu o Califa, vivamente interessado:
Ouviremos, o príncipe, com o
máximo prazer a vossa arguição. Espero que o jovem persa, que até agora tem se
mantido inabalável nos domínios do Cálculo, saiba resolver as questões
formuladas pelo velho budista (Allah se compadeça desse idólatra!).
Percebendo o príncipe que sua
inesperada proposta havia despertado a atenção do rei, dos vizires e dos nobres
muçulmanos, assim falou dirigindo-se serenamente ao “Homem que Calculava”:
O primeiro problema poderíamos
denominar “problema da pérola mais leve”. Eis o seu anunciado: Um mercador de
Benares, na Índia, dispunha de oito pérolas iguais - na forma, no tamanho e na
cor. Dessas oito pérolas iguais, sete tinham o mesmo peso; a oitava,
entretanto, era um pouquinho mais leve que as outras. Como poderia o mercador
descobrir a pérola mais leve e indicá-la com toda a segurança, usando a balança
apenas duas vezes, isto é, efetuando, unicamente, duas passagens? É esse o
primeiro problema, o Calculista! Queira Ala inspirar-te a solução e mais
perfeita!
Beremiz Samir, depois de
refletir, durante breves instantes, assim falou com voz remansada e firme:
Não me parece difícil ou obscuro
o problema budista da pérola mais leve. Um raciocínio bem encaminhado pode nos
revelar, desde logo, a solução.
Vejamos: Tenho oito pérolas
iguais. Iguais na forma, na cor, no brilho e no tamanho. Rigorosamente iguais,
diríamos assim. Alguém nos assegurou que entre essas oito pérolas destaca-se
uma que é um pouquinho mais leve do que as outras sete, e que essas outras sete
apresentam o mesmo peso. Para descobrir a mais leve só há um meio: É usar uma
balança. E deve ser, para o caso das pérolas, uma balança delicada e fina, de
braços longos e pratos bem leves. A balança deve ser sensível. E mais ainda. A
balança deve ser exata. Tomando as pérolas duas a duas e colocando-as na
balança (uma em cada prato) eu descubro, é claro, qual a pérola mais leve; mas
se a pérola mais leve for uma das duas últimas eu série obrigado a efetuar
quatro passagens. Ora, o problema exige que a pérola mais leve seja descoberta
e determinada com duas passagens apenas - qualquer que seja a posição por ela
ocupada. Um raciocínio bem encaminhado pode nos revelar, desde logo a solução.
Dividamos as pérolas em três grupos. e chamaremos A, B e C esses
grupos.
O grupo A terá três
pérolas; o grupo B terá, também, três pérolas; o terceiro grupo C será
constituído pelas duas pérolas restantes. Com duas passagens devo apontar, com
segurança, e sem possibilidade de erro, qual a pérola mais leve, sabendo que
sete são iguais em peso.
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