quarta-feira, 2 de abril de 2014

O leão e os outros animais



Em tempos remotos, uma onça, um lobo e uma hiena fizeram de comum acordo uma sociedade com um leão altivo, senhor das redondezas, ficando estabelecido que dali por diante repartiriam tanto os lucros como os prejuízos. Certo dia uma pobre corça caiu na armadilha da hiena; os sócios, imediatamente reunidos, trataram de receber o seu quinhão. O leão contando pelas unhas, disse:
- Somos quatro para repartir a presa.
Dividiu, pois, a corça em quatro pedaços, tomou para si a primeira parte, dizendo:
- Esta parte me pertence, porque sou o leão; a segunda também me é devida porque, como todos sabem, é o direito do mais forte; exijo igualmente a terceira porque sou o mais valente de todos; quanto à quarta, se alguém a pretender, será esquartejado.
É por isso que hoje em dia se diz que Fulano ficou com a parte do leão em determinados negócios, quando se quer dar a entender que ficou com tudo.


 Enterro concorrido

A um hotel modesto, de aparência tranquila, chega um viajante apressado.
- Senhor, - diz ele ao hoteleiro, - desejo um quarto. Não faço questão de preço, mas é preciso que seja uma peça branca, higiênica. Sou partidário da limpeza!
- Não há dúvida, - sorriu o hoteleiro. – Mandarei que o levem até lá. Afianço-lhe que ficará satisfeito.
Mostraram-se vários quartos ao viajante. As paredes são cinzentas, os tapetes são velhos, mas a roupa de cama parece limpa. O nosso homem inspeciona tudo com cuidado que lhe dá a desconfiança, apalpa o mobiliário, hesita.
- Oh, uma pulga! – grita ele.
- Não se incomode, - diz-lhe a criada, - isso não é grave. Veja por si mesmo: a pulga está morta.
Não há outro hotel na aldeia. A cidade fica distante. O viajante aceita o quarto e deita-se. Na manhã seguinte, de madrugada, o nosso herói acorda todo mundo. Quer partir. Tem uma expressão de lúgubre cansaço.
- Dormiu bem, cavalheiro? – pergunta amável, o proprietário. – A pulga estava ou não estava morta?
- Estava... estava bem morta. Mas que enterro concorrido!...


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