quarta-feira, 2 de abril de 2014

O poema e a paródia II


As pombas

 Raimundo Correia


Vai-se a primeira pomba despertada...
Vai-se outra mais... mais outra... enfim dezenas
De pombas vão-se dos pombais, apenas
Raia sanguínea e fresca a madrugada...

E à tarde, quando a rígida nortada
Sopra, aos pombais de novo elas, serenas,
Ruflando as asas, sacudindo as penas,
Voltam todas em bando e em revoada...

Também dos corações onde abotoam,
Os sonhos, um por um, céleres voam,
Como voam as pombas dos pombais;

No azul da adolescência as asas soltam,
Fogem... Mas aos pombais as pombas voltam,
E eles aos corações não voltam mais...


Cinematógrapho


Vai-se a primeira fita comovente...
Vai-se outra mais... mais outra... e mais fitas
Vão-se, fita sublimes, esquisitas
Apenas desce a noite lentamente.

E depois do programa surpreendente
Noutra sessão, mais tarde, las catitas
De pathé, de Biograph, bonitas
Voltam todas ao quadro novamente.

Também dos nossos bolsos, retinindo
Vão-se cinco tostões assim sumindo
Como do quadro as fitas colossais...

Nas trevas da gaveta o timbre solta:
Porém noutra sessão as fitas voltam
E esses cinco tostões não voltam mais...



(L. Litão Júnior – publicado na imprensa gaúcha, 
nos anos 20. Recolhido por Jesus Pfeil)


Nenhum comentário:

Postar um comentário