quarta-feira, 2 de abril de 2014

Orestes Barbosa


(1893 – 1966)


 Em agosto de 1966, quando morreu Orestes Barbosa, autor das mais belas músicas de serestas brasileiras, escrevia Francisco Luís Ribeiro, na sua coluna “Poeira das Ruas”, que então publicava no “Diário de São Paulo”.

Morreu Orestes Barbosa. Anjos, largai as vossas harpas, empunhai violões para receberes condignamente o poeta-sambista! E abri as vossas asas, como estandartes, para recepcionar o Mestre!
Quem teve o talento de compor Chão de Estrelas merece um céu só de pastorinhas...”


Chão de Estrelas

(Orestes Barbosa e Sílvio Caldas)

Minha vida era um palco iluminado...
Eu vivia vestido de dourado
- Palhaço das perdidas ilusões...
Cheio dos guizos falsos da alegria,
Andei cantando a minha fantasia
Entre as palmas febris dos corações...

Meu barracão no morro do Salgueiro
Tinha o cantar alegre de um viveiro
- Foste a sonoridade que acabou...
E, hoje, quando o sol a claridade
Forra o meu barracão, sinto saudade
Da mulher - pomba-rola que voou...

Nossas roupas comuns dependuradas
Na corda, qual bandeiras agitadas
Pareciam um estranho festival:
A mostrar que nos morros mal vestidos
É sempre feriado nacional.

A porta do barraco era sem trinco,
Mas a lua furando o nosso zinco,
Salpicava de estrelas nosso chão...
Tu pisavas nos astros distraída
Sem saber que a ventura desta vida,
É a cabrocha, o luar e o violão...

               O poeta (Orestes) diz que “Tu pisavas nos astros distraída”, verso que Manuel Bandeira invejava, considerando-o “talvez o mais bonito de nossa língua”. O titulo inicial da música era Sonoridade que acabou, mas foi alterado para Chão de estrelas a conselho do poeta Guilherme de Almeida.


Nenhum comentário:

Postar um comentário