Orlando Silva nasceu no Engenho
de Dentro no dia 3 de outubro de 1915 e morreu em 7 de agosto de 1978 aos 62
anos. Para homenagear aquele que foi chamado “O CANTOR DAS MULTIDÕES”
pesquisamos a sua biografia, escrita por Ruy Castro, e parte integrante de uma
coletânea composta por 3 CDs com 66 de seus sucessos. “De 1935 a 1942, Orlando Silva
foi o mais perfeito cantor popular do Brasil. E um dos mais perfeitos do mundo.”
Assim começa Ruy Castro a história de Orlando.
A sua carreira foi curta, durou apenas
sete anos. Em 1940 algo afetou cruelmente a sua voz. Falou-se de bebida, drogas
e mulher. Mas essas versões eram vagas e injustas.
Até a sua morte foi impossível apurar
a verdade. Agora sabemos que a morfina foi a grande causadora do fim trágico de
uma bela carreira.
Tudo começou com um acidente
ocorrido em 1932 quando perdeu parte do pé ao cair de um bonde em movimento. Passou
quatro meses internado no Souza Aguiar, com fortes dores, tomando morfina para
poder suportar o sofrimento. Mais tarde teve um problema nos dentes:
"Gengivite Ulcerativa Necrosante Aguda", mais conhecida como
"piorreia". O tratamento, em 1942, pode ter sido desastroso, expondo
a dentina e o nervo de um ou mais dentes. A dor causada é uma das piores que o
ser humano pode suportar. Imagine isso tudo com os recursos médicos daquela
época. Em desespero, Orlando terá se lembrado da morfina que lhe haviam
aplicado aos 16 anos, na época do acidente do bonde. E pode ter começado a usar
a droga. Mas a morfina, além de causar dependência, ataca os nervos
periféricos, entre os quais os das cordas vocais. Mesmo com o tratamento,
Orlando precisou extrair os dentes da arcada superior, o que também contribuiu
para afetar a sua voz.
Mas vamos voltar à época do
acidente com o bonde. Ruy Castro continua seu relato: "Orlando passou
grande parte de 1933 em casa, de cama ou muletas, ouvindo rádio e decorando
letras dos últimos sucessos que saíam nos jornais de modinhas". A música
brasileira estava na sua "época de ouro". O grande cantor ainda era
Francisco Alves, o "Rei da Voz". O acidente lhe custara a perda do
emprego na Casa Reunier e Orlando foi trabalhar como trocador de ônibus. Foi
estimulado pelos passageiros, pois vivia cantando, a tentar a sorte nos
programas de calouros. Foi reprovado no programa de Renato Murce, na Rádio
Phillips.
Em 1934 o compositor Bororó o
ouviu, sem microfone, no corredor da rádio Cajuti. Empolgou-se com a sua voz e o apresentou a
Francisco Alves, no Café Nice (na Galeria Cruzeiro, onde fica o hoje o Edifício
Av. Central). E aí, com a
ajuda de Francisco Alves, começou a sua carreira. O
"Cantor das Multidões" começou a ser assim chamado graças a Oduvaldo
Cozzi que se surpreendeu com o assédio popular a um cantor considerado feio,
com defeito físico e que conseguia, graças à sua voz, arrebatar multidões de
admiradores.
*****
Em fins dos anos 40, Orlando e
Nelson Gonçalves entraram num botequim da Lapa para tomar um café. A vitrola
casualmente tocava a sua gravação de "Por quanto tempo ainda", de
1939. Orlando deixou-se ficar ouvindo os pianíssimos com que ornamentara
a insuperável valsa de Joubert de Carvalho.
Então disse, com um sorriso
inundado de lágrimas:
- Olha aí, Nelson. Esse sou eu.
- Não, Orlando, esse foi você...
Mas Nelson sabia a verdade:
aquele tinha sido Orlando. Orlando é que parecia não acreditar que já
não era o mesmo.
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