O Coronel Bicaco ganhara o seu
título em revoluções e era estancieiro, ervateiro e bolicheiro forte no local
onde hoje está a bela e hospitaleira cidade que tem o seu nome.
Fisicamente ele se parecia com
Getúlio Vargas, pequeno, forte e entroncado. Grosso como tarugo de pipa, cheio
de manias e meio agarrado com os pilas, duma feita recebeu a visita dum
viajante de São Paulo que trazia uma novidade para o bolicho: penico alouçado,
de vários calibres e virola de cores diferentes. E sem tampa, ao contrário
daqueles antigos penicos de louça que vinham nos enxovais fazendo jogo com a
jarra, a bacia, a saboneteira e a escarradeira...
O Coronel gostou e quis comprar,
mas o homem disse que só vendia por “grosa”. Aí o índio velho pensou que
“grosa” era como os birivas chamavam a dúzia e encomendou doze grosas. E de
cada tipo!... Surpreendido mas satisfeito, o viajante assinou o pedido.
Daí a umas semanas começou a
chegar penico no bolicho que não acabava mais! Os trens despejavam em Ijuí
vagões e vagões e as comitivas de carreteiros não tinham descanso. Apavorado, o
Coronel Bicaco quis parar com tudo aquilo. Chamou um “confiança”, fez um
telegrama, contou as palavras direitinho e deu ao homem cavalo encilhado e o
dinheiro justo para passar o telegrama, em Ijuí, a 35 léguas de distância.
Mas deixa que o “confiança”
gostava dum trago uma coisa por demais e parou num bolicho de beira de estrada,
para umas e outras... Chegou à estação da viação férrea e faltou dinheiro para
todo o telegrama, que era assim: “Não manda
mais penico. pt Coronel Bicaco”. O negócio era cortar uma palavra e a moça
quis saber qual seria. Ele então disse: “Corte a primeira”. Era a palavra “não”.
Resultado: outra inundação de
penico! ... Desesperado, o Coronel Bicaco redigiu outro telegrama: “Parem de mandar penico. pt. Coronel Bicaco”,
contou o dinheiro e mandou o “confiança” de novo a Ijuí. Aí o borracho levou
mais dinheiro, do dele. Estava preocupado, achando que estava chegando mais
penicos por sua causa, porque deixara da outra feita uma palavrinha à toa de
fora.
Aí resolveu corrigir o erro:
pegou a palavra que antes tinha ficado de fora e acrescentou no telegrama de
agora, satisfeito consigo mesmo. Ficou assim: “Não parem de mandar penico. pt. Coronel Bicaco”.
Até hoje ainda tem penico sem
uso, daqueles tempos, em
Coronel Bicaco.. .
(Do livro “Novos
causos de galpão”, Antônio Augusto Fagundes)
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