Ivana Maria França de Negri
Nós, representantes da raça Homo Sapiens, queremos, através desta, pedir
desculpas às criaturas irracionais que habitam este imenso planeta. Pela nossa
inabilidade em conservar, usufruir sem degradar e utilizar racionalmente os
recursos naturais do meio ambiente, destruindo em poucos dias o que a natureza
leva milhões de anos para construir.
Perdoem-nos pela nossa
falta de sensibilidade, quando abandonamos cadelas e gatas prenhas, filhotes e
animais velhos nas ruas ou nas estradas para morrerem mais depressa. Eles
sucumbem aos poucos, por doenças, tristeza e abandono e vemos todos os dias
centenas de corpinhos estirados nas margens das estradas.
Pedimos perdão pela nossa
falta de consciência ao aprisionarmos animais em jaulas ou gaiolas, privando-os
do bem mais precioso, a liberdade. Perdoem-nos pela nossa voracidade em
utilizar seus corpos como alimento, obrigando-os a uma vida cheia de privações,
sem o mínimo conforto, apenas para saciar a nossa gula primitiva.
Pedimos desculpas pela
nossa falta de ética crônica ao utilizarmos suas vidas em experimentos
laboratoriais, quando existem outras alternativas. Pedimos desculpas por
utilizar sua força em nosso proveito, trabalho nem sempre necessário. E muitas
vezes apenas para nosso divertimento, como nos rodeios, circos, touradas e
outras festas que martirizam os animais, apenas para a diversão mórbida de
alguns. Pela nossa falta de respeito às espécies, deixando muitas chegarem à
completa extinção por causa da caça predatória, da matança para retirada das
peles e comércio ilícito de penas, ossos e marfim a fim de confeccionar
amuletos inúteis.
Perdoem-nos pelas
queimadas criminosas que poluem o ambiente e ceifam milhares de vidas
silvestres. Perdoem-nos pela nossa falta de misericórdia, pela violação dos
santuários ecológicos, pelo desmatamento, pela pesca indiscriminada e pela
poluição dos rios. Perdoem-nos pelos derramamentos de petróleo nos mares, pelas
aves agonizantes que morrem sem poder livrar-se do óleo em suas penas, essa
hemorragia negra e nefasta, que de quando em quando deixamos sangrar nos mares.
Pedimos desculpas por
condená-los à frieza das grandes metrópoles, à mercê dos laçadores, e à morte,
nos moldes de Hitler, nas cruéis câmaras de vácuo. Perdoem os homens por não
saberem compartilhar o planeta com os outros seres vivos, e por ignorar o que
significa conviver pacificamente com a natureza.
Pobres de nós, seres
humanos... Não temos ideia de que a paz, artigo em falta nos tempos atuais,
está em saber viver harmoniosamente com todos os seres que compartilham conosco
esta empreitada de aprendizado. E que Deus tenha piedade de nós no dia fatídico
do ajuste final de contas.
Ivana Maria França de Negri é escritora e
integrante da
Sociedade Piracicabana de Proteção aos
Animais
e-mail: ivanamfn@yahoo.com.br
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