De
que nos compomos?
Suponho
que de umas centenas de bilhões de pequenas galáxias imperfeitas.
Quem
as habita?
No
lado oculto, onde já cessou o clarão do derradeiro Big-Bang,
miríades
de espectros, como o medo, a insegurança,
a
culpa, a angústia, a dor, a perda.
No
lado oposto, o envolto em luz,
uma
esquiva constelação de reflexos que atendem por plenitude,
serenidade,
harmonia, sonho, juventude, amor.
Como
são esses espectros, como são esses reflexos?
O
medo é quando te distrais de tua íntima fortaleza,
e a
renegas e a ignoras e a escondes de ti mesmo.
A
insegurança é quando só estás seguro de tua fragilidade,
como
se fosse erro ser às vezes frágil,
é
quando só estás certo de tuas perguntas sem respostas,
como
se fosses obrigado a tudo saber.
A
culpa é quando tomas a ti o peso dos desconsertos do mundo
e
te sentencias a penas inúteis,
como
o remorso da argila ancestral de que também és feito.
A
angústia é quando te inquietas pelas coisas inevitáveis
aquelas
que, estava escrito, seriam desde sempre ou insolúveis ou inatingíveis.
A
dor é quando te atingem indefeso,
momentaneamente
desatento da armadura interior que te recobre.
A
perda é quando muito te concentras no que poderia ter sido;
é
quando pouco te apercebes de tudo quanto continuará a ser.
A
plenitude é quando teu presente se constrói tão intenso que se detém nas horas,
como
naquele relógio improvável, posto que real, da tela de Salvador Dali.
A
serenidade é quando se apazigua teu coração e se aquieta tua alma,
sem
que com isso renuncies ao fruir de teus sentidos.
A
harmonia é quando te encontras em sintonia com quem convives,
sem
abrires mão dos dons que te tornam único na adversidade.
O
sonho é quando eleges o norte que dará prumo à tua vida;
é a
distante estrela que persegues, não por alguma recompensa,
mas
pelo desafio da busca.
A
juventude é quando em ti conservas desejos, aspirações,
um
jeito inaugural de te maravilhares,
Não
importa a idade te queiram atribuir.
Quanto
ao amor, nada é preciso dizer.
Contempla
aquela praça.
Vê
em que ternos jogos emergem nesta manhã aqueles dois adolescentes.
Pois
para eles não há espectros.
E
formam ambos uma constelação de reflexos em que orbitam o claro olhar da moça
e o
modo brando com que o rapaz a enlaça.
E
em verdade creio que nada de melhor
neste
instante
todos
os bilhões de GALÁXIAS
IMPERFEITAS.
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