Os vizinhos
O vizinho – um gaudério de
quatros costados – olhava cobiçoso para as vizinha, mas não tinha coragem de
abordá-la. Até que um dia venceu o constrangimento e foi procurá-la:
– Pois olha, vim aqui pra transar com a vizinha ou pra tomar um mate – disse-lhe, sem rodeios.
A vizinha demorou um pouco e respondeu:
– Pois, vizinho, não é que o senhor me pegou sem erva!
*****
O preço de uma empulhação
Buenas, compadre! Como le vai? Que cara é essa de quem comeu
e não gostou?
– Não
é pra menos. Parece que o diabo anda sorto...
– Que
foi que le aconteceu?
– A mim, nada. Mas sube agora
mesmo de uma desgraça na Fazenda da Coronilha...
– Então, desembuche de
vereda...
– Diz que a peonada estava
no galpão, mateando e charlando, quando o Toríbio, aquele da Maria Chininha,
perguntou, assim pra todos:
– Pois estou disposto a
pagar um trago de canha, no boliche do Chico Rengo, pra quem me arresponder
ligeiro, sem pensar munto, qual é a mulher do touro?
– Ora, é a vaca... – foi
dizendo logo o índio Desidério, que estava escorvando os dentes com a ponta da
faca.
– Pois não é! – respondeu o
Toríbio.- Vaca é a mãe...
– Foi a conta. Diz que o
Desidério saltou como um gato pra riba do rapaiz e lhe pregou um pranchaço
pelas guampas que o fez testavilhar e, sem dar tempo que apartassem, passou-lhe
a traíra por baixo da queixada, fazendo o sangue espirrar da veia-artéria como
se fosse um chafariz e ali mesmo ficou no mais pataleando!
– Mas que barbaridade!
– Sim, mas não é assim
também que se ofende a mãe de um vivente.
(“Barão de Itararé –
Almanaque de 1949” )
Os dois velhos
Depois do combate, dois velhos
amigos que não se viam há uns 30 anos resolveram especular qual dos dois era
mais velho.
Como nenhum dos dois tinha bautistério, o negócio era apelar para
fatos marcantes.
Os dois eram velhos como mijar de
pé, com a cara como coalheira, de tão enrugada, mas com a memória inteira.
− Acho que sou mais velho que o
senhor, compadre: a falecida mia mãe sempre contava que quando o General Madeira
passou por aqui, reunindo, ela tava com dor pra me ter!
− À mode então que sou mais velho
que o senhor, compadre: a falecida mia madrinha sempre contava que quando
aquela gente passou por aqui, a finada mia mãe já tinha me tido...
(Do livro “Causos de Galpão”,
de Antonio Augusto Fagundes)
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