"Enquanto a sociedade feliz não chega, que haja pelo menos
fragmentos de futuro em que a alegria é servida como
sacramento, para que as crianças aprendam que o
mundo pode ser diferente. Que a escola,
ela mesma, seja um fragmento do
futuro..."
fragmentos de futuro em que a alegria é servida como
sacramento, para que as crianças aprendam que o
mundo pode ser diferente. Que a escola,
ela mesma, seja um fragmento do
futuro..."
Milho de pipoca que não passa pelo fogo continua a ser milho para
sempre. Assim acontece com a gente.
As grandes transformações acontecem quando passamos pelo fogo. Quem não
passa pelo fogo, fica do mesmo jeito a vida inteira. São pessoas de uma mesmice
e uma dureza assombrosa.
Só que elas não percebem e acham que seu jeito de ser é o melhor jeito
de ser.
Mas, de repente, vem o fogo.
O fogo é quando a vida nos lança numa situação que nunca imaginamos: a
dor. Pode ser fogo de fora: perder um amor, perder um filho, o pai, a mãe,
perder o emprego ou ficar pobre.
Pode ser fogo de dentro: pânico, medo, ansiedade, depressão ou sofrimento,
cujas causas ignoramos. Há sempre o recurso do remédio: apagar o fogo! Sem fogo o sofrimento
diminui. Com isso, a possibilidade da grande transformação também.
Imagino que a pobre pipoca, fechada dentro da panela, lá dentro cada vez mais quente, pensa que sua hora chegou: vai morrer. Dentro de sua casca dura, fechada em si mesma, ela não pode imaginar um destino diferente para si. Não pode imaginar a transformação que está sendo preparada para ela. A pipoca não imagina aquilo de que ela é capaz. Aí, sem aviso prévio, pelo poder do fogo a grande transformação acontece: BUM! E ela aparece como uma outra coisa completamente diferente, algo que ela mesma nunca havia sonhado. Bom, mas ainda temos o piruá, que é o milho de pipoca que se recusa a estourar.
São como aquelas pessoas que, por mais que o fogo esquente, se recusam a
mudar. Elas acham que não pode existir coisa mais maravilhosa do que o jeito
delas serem.
A presunção e o medo são a dura casca do milho
que não estoura. No
entanto, o destino delas é triste, já que ficarão duras a vida inteira. Não vão
se transformar na flor branca, macia e nutritiva. Não vão dar alegria para
ninguém.
Extraído
do livro “O amor que acende a lua” de Rubem Alves
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