quarta-feira, 2 de abril de 2014

Poemas gauchescos



Das comadres

A primeira comadre fala da terceira
e a terceira, com a segunda, da primeira,
e da segunda a primeira com a terceira
e as três reunidas da cidade inteira.

Entre o mate que anda e o cigarrinho,
a conversa à meia voz, alcoviteira:
− Fulano anda de cacho com a Beltrana,
Sicrana foi à noite na parteira...

− João deixou a mulher e botou casa
pr´uma mulata linda de morrer.
− Eu vi Ritinha saltar pela janela
com estes olhos que a terra há de comer...

São as comadres um jornal da terra
com matérias especiais sobre o alheio,
informadas com minúcias fantasiosas
e recheios criativos pelo meio.

A primeira comadre fala da terceira
e a terceira, com a segunda, da primeira,
e da segunda a primeira com a terceira
e as três reunidas da cidade inteira...

(Aparício Silva Rillo – in “Almanaque do tchê!”, de 1984)

Gaúcho da rua da Praia

A la fresca! Barbaridade!
Ser gaúcho é uma boa.

Bombacha, boina, alpargata,
me largo à rua da Praia
só para cair na gandaia
à procura duma gata.

Qual é a tua, meu irmão?
Sou um taura mui largado
bebo, fumo baseado,
vou à boate, cross e bailão.

Índio grosso, mui bagual,
magro, fino, delicado,
mulher de pé rachado:
tudo gente trilegal.

Enquanto vai o chimarrão,
só pra lembrar, seu guaiaca,
pisar em bosta de vaca
já não é mais tradição.

Vê como me sinto bem guapo,
Ansim junto ao meu povo,
Curtindo o velho e o novo,
Transando o velho farrapo.
A la pucha!Barbaridade!
Ser gaúcho é uma boa.

(Ortiz – in “Almanaque do tchê, de 1984)

Milongay

Me esperavam de bombacha
quando eu vim de calça em vinco.
Pensavam que eu era caudilho
E eu era prenda do “35”.

Eu sou taura mui largado
de tropilha farroupilha.
Mas não é que o lenço rubro
tá virando gargantilha?

Eu montei na egüita baia,
eta egüita que era xucra!
E saí na ventania
balançando a minha peruca.

Um taura mui largado
Perguntou: aonde ele vai?
Eu peguei minha guaiaca
e fui pra esquina do DMAE.

Com faca de aparar guampa
Me perdi à la gandaia.
Ainda corto minhas bombachas
Pra fazer uma minissaia.

(Autor desconhecido)


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