domingo, 20 de abril de 2014

Poemas gauchescos



Poemas gauchescos

Gaúcho

João Simões Lopes Neto

Eu não nasci para o mundo,
Para este mundo cruel.
Só quero cortar os Pampas,
No dorso do meu corcel
Este meu pingo galhardo,
Este meu pingo fiel.

Eu sou como a tempestade,
Sou como o rijo tufão,
Que esmaga os vermes na terra,
E sobe para a amplidão.
Eu sou senhor dos desertos,
Monarca da solidão!

O Tropeiro

Chico Ribeiro

De pelo a pelo, sem visar pousada,
Riscando o chão de todos os caminhos...
Tropeiro que, depois de uma arrancada,
Pede rodeio entre s rincões vizinhos!

De laço aos tentos, de sinuelo à frente,
Tranco seguro e olhos de quem sonda,
De quem procura, e, insistentemente,
Juntar a tropa que estourou na ronda!

Assim eu venho pela vida a fora,
Sorvendo poeira, respirando auroras,
Neste tranqüilo de vencer distâncias...

Na esperança de achar nalgum rincão,
‒ Inda que rasto, amigos da ilusão,
Tropa das tropas que rondei na infância!

Cuia

Apparício Silva Rillo

Cuia morena queimada
confeccionada a lo bruto
rude cálice matuto
de amarguentas comunhões,
na tradição campechana
serves o vinho que irmana
dono de estância e peões.

Velho utensílio crioulo
da utilidade nativa,
que misturando saliva
no ritual dos chimarrões,
estarrece gente estranha
que não sabe que a campanha
não conhece convenções.

Quando em teu bojo recebes
a erva do chimarrão,
e da tua carnação
verde o sangue se desata,
me entristeço, imaginando,
que és um coração sangrando
por uma artéria de prata!

Retrato dos Pampas

Caramuru

Na fazenda crioula um galo canta
Acordando a gaúcha peonada;
Na coxilha o mugido da boiada,
Fala ao rebanho – é dia. Te levanta!

Vem vindo o sol festivo, sorridente.
Convidando o gaúcho à camperiada;
No zaino recorrendo à invernada,
Vai ele bem feliz e bem contente.

Vai dizendo à alfombra das campinas,
De verdes promessas de esperanças,
Beijadas pelas auras peregrinas:

Aqui, sou bem feliz sendo gaúcho,
Neste recanto onde o viver não
cansa, Longe das multidões... longe do luxo!...



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